Passado o Carnaval, as ruas voltam a ser ocupadas por marchas políticas. Mulheres trabalhadoras de oito centrais sindicais e mais de 60 movimentos populares e feministas vão às ruas no Rio de Janeiro (RJ) no 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
A concentração da manifestação está marcada para às 16h na Candelária, centro da cidade. Além disso, outros 25 municípios brasileiros preparam atos nesse dia.
Um ponto a ser destacado é a união do movimento de mulheres feministas, classistas e operárias, de diferentes correntes políticas, que vai da direita à extrema-esquerda. Entre as centrais sindicais está a CUT, CTB, Nova Central Sindical, Força Sindical, UGT, CSB, Intersindical e CSP-Conlutas. Além disso, estarão presente movimentos feministas como a Marcha Mundial da Mulheres, Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Unegro, Nem Uma a Menos, entre outros.
Segundo as dirigentes sindicais que organizam o ato no Rio, o principal desafio é barrar as medidas políticas do governo de Michel Temer contra as mulheres e os direitos já conquistados, como a reforma da Previdência.
“Igualar a idade de homens e mulheres para a aposentadoria, como quer o governo Temer, é desconsiderar as condições desiguais dentro do ambiente de trabalho, onde as mulheres ganham 32% menos exercendo os mesmo cargos, além da jornada dupla e tripla, porque somos nós que continuamos cuidando dos filhos e da casa”, afirma a integrante da Marcha Mundial das Mulheres, Maysa Carvalhal.
A reforma da Previdência, que em breve será votada no Congresso, propõe aumentar a idade mínima de homens e mulheres para 65 anos, o tempo de contribuição para 49 anos (para receber o valor integral) e retira das mulheres o direito de se aposentar cinco anos antes. Atualmente a idade mínima para solicitar esse direito é 60 anos para os homens e 55 para as mulheres, e o tempo de contribuição é de 35 e 30 anos, respectivamente.
“Não querem fazer uma reforma da Previdência. O que pretendem é o desmonte da Previdência e que prejudica e em especial nós, mulheres, que acumulamos o trabalho doméstico e o trabalho remunerado”, explica Marlene Miranda, dirigente da Secretaria Estadual da Mulher Trabalhadora, da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUT-RJ).
Marlene explica ainda que entre as mulheres, as mais prejudicadas são as trabalhadoras rurais e das florestas. A expectativa de vida entre elas é baixa, e a maioria pode morrer sem atingir a idade mínima e o tempo de contribuição. Na prática, a proposta do governo Temer nega a essas mulheres o direito à aposentadoria. “As trabalhadoras rurais, da cidade das águas e das florestas corem o risco de perder suas aposentadorias”, destaca a dirigente da CUT.
Além da denúncia à reforma da Previdência, nesse 8 de março o movimento feminista também levantará bandeiras do combate à violência, contra a criminalização do aborto, contra a reforma trabalhista e a favor da Parada Internacional de Mulheres, um movimento formado por mulheres de partes diferentes do mundo. Movimentos de mulheres convocam todas a pararem o serviço, às 12h30, horário de Brasília.
“Convidamos as mulheres a paralisarem suas atividades por uma hora e, nesse momento, fazerem uma reflexão sobre seus direitos e o papel que ocupam na sociedade”, explica Carvalhal. Isso serve para as trabalhadoras formais e informais, dentro e fora de casa.
Essa paralisação vai acontecer em vários países do mundo, no mesmo horário. “Queremos novos significados para o sentido de greve, que está mais ligado às atividades produtivas. Agora, vamos nos levantar também contra o confinamento doméstico. Estamos nos referindo às atividades produtivas não-remuneradas de casa”, aponta Carvalhal.
Uma nova primavera
Mulheres de diferentes frentes e ideologias políticas, unidas por uma única causa --que é barrar o retrocesso--, vão às ruas de mãos dadas e, assim, pode surgir algo novo.
A Primavera das Mulheres no Brasil, em 2015, o movimento contra a violência na Argentina, “Ni Una a Menos”, que surgiu depois que uma jovem de 15 anos foi estuprada e morta na cidade argentina de Mar del Planta em 2016, e a grande Marcha de Mulheres, no EUA, em janeiro passado, contra Donald Trump, impulsionaram uma articulação internacional de mulheres.
Depois disso, intelectuais, artistas e ativistas como Angela Davis (norte-americana) e Nancy Fraser (canadense), lançaram uma convocatória para a Greve Internacional de Mulheres, no dia 8 de março.
Há exatos 100 anos, na Rússia, uma marcha das mulheres operárias contra a fome e o governo ditatorial do czar Nicolau II desencadeou uma série de manifestações. As ações que ocorreram depois resultaram, em outubro de 2017, na Revolução Russa, considerada uma grande conquista do movimento de trabalhadores, que impactou no mundo inteiro.
O líder bolchevique Leon Trotsky registrou, na época, que ninguém esperava que o movimento de mulheres desencadearia uma revolução dos trabalhadores. “Pela manhã, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e todas saíram às ruas. A greve foi massiva, mas não imaginávamos que este 'dia das mulheres' viria a inaugurar a revolução", afirmou.
Portanto, esse 8 de março de 2017 pode ser grande e histórico. Para a líder sindical Marlene Miranda, o maior desafio é garantir que não haverá nenhum passo atrás nos direitos conquistados.
“Não podemos retroceder, não perder nenhum direito. Por isso, somos contra a reforma trabalhista e a reforma da Previdência. Unidas somos fortes”, ressalta.
Edição: Camila Rodrigues da Silva