Mulheres fazendo selfies com o assassino e ex-goleiro Bruno Fernandes, condenado a 22 anos de prisão pelo crime bárbaro da ex-amante Elisa Samudio, chocaram recentemente as pessoas nas ruas e nas redes sociais. O que dizer dessas mulheres, por que não se revoltam, em última análise, com a liberdade do assassino de uma mulher e mãe que deixou um bebê órfão? A psicologia feminina, nesse caso, não deve ser tomada como a expressão da vontade da maioria. Depois da foto das "brunetes", a resposta vinda da sociedade foi imediata: 11 mil assinaturas de mulheres e homens num abaixo-assinado na internet contra ele.
Esses fatos refletem, em parte, que existem mulheres que ainda carregam, sim, o machismo dentro delas. Isso depois de todas as leis e campanhas já feitas sobre a violência contra as mulheres. Essas, provavelmente, são aquelas que sofrem caladas em casa; que tentam retirar a queixa de agressão da delegacia; que condenam as outras por serem amantes; são encantadas por seu algoz, e não praticam a sororidade.
Para denunciar tanta violência e a opressão no trabalho contra nós, faremos um ato gigantesco, uma greve internacional de mulheres, uma manifestação global no dia 8 de março, cujo objetivo não é apenas denunciar o sistema que nos oprime, mas acordar as mulheres que ainda se sentem confortáveis com essa opressão. Não se trata de instaurar uma guerra de sexos, longe disso.
Recentemente, no carnaval carioca, uma jovem foi covardemente agredida por um homem; não por acaso, ela usava um maiô escrito "Feminist". Estava sentada num bar de jovens na Lapa, ao lado do namorado e ambos foram agredidos porque ela não atendeu à cantada do agressor. A estatística do carnaval foi lamentável: a cada quatro minutos um mulher foi agredida, um total de 2154 mil solicitações só na cidade maravilhosa! Isso na capital do Rio de Janeiro, no Brasil aumentou em 90% o número de agressões neste período.
Todos esses sinais recentes na nossa sociedade, da selfie com Bruno à agressão às mulheres no carnaval, são sintomas de uma doença chamada intolerância que avança no Brasil e que como maioria temos o poder de reverter. A violência contra a mulher aumenta e não é apenas física, é também simbólica. Se somos a maioria no mundo, somos também a maioria nas áreas mais pobres e oprimidas, como nas favelas. Então, temos o poder nas mãos de mudar a realidade, sim. O Brasil tem 12 milhões de pessoas morando em favelas, segundo o trabalho recente divulgado pelo Instituto Data Favela, e mais de 6 milhões desses moradores são mulheres! Dentre elas, 42% chefiam os lares, sendo que 24% são mães solteiras. Esse é um retrato da realidade da mulher no Brasil, a maioria é pobre e negra.
Em tempos de tentativa de ataque às regras da CLT e da Previdência Social, é bom lembrar que as mulheres serão as maiores vítimas dessa mudança, se ela for aprovada pelo Congresso. A jornada total média das mulheres (que considera a soma do trabalho remunerado mais os afazeres domésticos) ainda é de 53,6 horas semanais, enquanto a dos homens, de 46,1 horas. Agora, o governo golpista de Michel Temer quer também mudar para pior a realidade das mulheres aumentando a idade da aposentadoria e piorando a relação dos trabalhadores terceirizados.
Por tudo isso, contra a violência física e simbólica, é que devemos nos mobilizar, independentemente de partido, de idade, da região, somos todos mulheres e temos o poder e o dever de fazer alguma coisa nesse momento histórico. A economia piora desde que Dilma Rousseff foi afastada do poder, em mais uma violência contra a mulher. Estamos na pior recessão da história e você, como mulher, o que vai fazer para mudar isso e salvar o seu, o nosso futuro? Vamos para as ruas, nem um direito a menos e nem uma a menos!
* Zeidan é deputada estadual (PT) e integrante das comissões de direitos das mulheres e da comissão de turismo da Alerj.
Edição: Vivian Virissimo