Os produtos foram vendidos pela metade do preço, e agricultores articulam próximas feiras
Pamonha, milho verde, feijão de corda e abóbora.
De tudo que tinha na roça, Volney de Sousa, 34 anos, levou um pouco para vender na primeira feira de produtos dos acampamentos da região de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará.
A atividade, que ocorreu no dia 4 de março, foi organizada por trabalhadores que estão acampados em terras concentradas pela mineradora Vale.
Volney mora no acampamento Planalto Serra Dourada, onde vivem cerca de 352 famílias.
Ele conta que os produtores ficaram empolgados com a ideia da feira.
"Nós provamos que a gente vendeu pela metade do preço e ainda conseguimos ter um lucro em cima do custo de produção. Não é um lucro exagerado, mas é um lucro que dá pra suprir a nossa necessidade", apontou.
O educador popular Raimundo Gomes, do Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp), destaca que devido a grande concentração de terra na região, muitos dos produtos agrícolas que abastecem a cidade vêm de outras localidades e, por isso, são mais caros.
“Os mais pobres é que sofrem com a elevação dos preços dos produtos. Assim, a ideia da feira é fazer esse contraponto de que podemos fornecer aos trabalhadores desempregados produtos com preços acessíveis, diferentemente daquele cobrado na feira coberta que foi construída agora”, avaliou.
O embate entre os acampados e a minera dora se deve à compra de terras pela Vale.
Segundo Volney, 51% das terras do município estão nas mãos da mineradora e outra parte com grandes fazendeiros. Sem espaço para plantar, os agricultores da região não conseguem abastecer a cidade.
"A principal intenção não era nem a parte de pegar o dinheiro em si, era mais divulgar o que a gente produz. A gente é muito criticado nos acampamentos que a gente não produz muita coisa, mas como a terra ainda está em conflito, não dá pra gente está fazendo roça muito grande", explicou.
A região dos Carajás é, historicamente, palco de intensos conflitos fundiários.
Foi nessa região que ocorreu Massacre de Eldorado dos Carajás, em 17 de abril de 1996. Mas novos casos surgem cotidianamente.
O mais recente foi a agressão sofrida por um produtor rural e o filho dele de 23 anos por seguranças da empresa Prosegur, a serviço da Vale, quando eles estavam consertando uma cerca.
Procurada pelo Brasil de Fato, a Vale informou, por meio da assessoria de imprensa, que não iria se manifestar.
Edição: Camila Maciel