Com falta de transparência e diálogo com a população, a atual gestão da Prefeitura de São Paulo, comandada por João Doria (PSDB), começou a fechar unidades do serviço voltadas para o diagnóstico e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, os Centros de Aconselhamento e Testagem (CTAs). Localizado estrategicamente, o CTA Santo Amaro, na zona sul da capital paulista, recebe 6.500 pessoas por ano de acordo com uma de suas coordenadoras, mas está prestes a ser fechado e transferido para o Centro de Referência (CR) da região.
O medo que ronda seus funcionários e usuários, além do repúdio à ausência de conversas com a comunidade, é de que o centro perca sua autonomia e excelência de serviço. Para aqueles que conhecem e são usuários do sistema, o principal diferencial é o respeito com que o acolhimento é feito. “Se formos transferidos para o CR, sem dúvidas, perderemos a nossa autonomia e não poderemos prestar um serviço personalizado e com um atendimento individual e humanizado”, defende Marcela Alves Montteiro, usuária dos serviços do CTA Santo Amaro e ativista do movimento de travestis e transexuais da zona sul.
Atualmente, o CTA ocupa uma casa alugada. “Essa gestão determinou que, para não gastar 15 mil reais por mês, a gente deveria sair dessa casa e ir para dentro de outro serviço (…) evidentemente, a gente foi contrário”, argumenta Lúcia Gatti, técnica da unidade. A despeito das reuniões em que funcionários e a população próxima demonstraram-se contrários à transferência do espaço, ela conta que “a chefia daqui já começou a tomar algumas atitudes como empilhar cadeiras e, desmontar a sala”.
Nesta segunda-feira(13), uma reunião com ativistas, membros do Fórum das ONG/AIDS do Estado de São Paulo e a Coordenadoria Regional de Saúde Sul discutiu o processo e as críticas ao modo como as mudanças estão sendo implementadas. “O que nós estamos denunciando é que essa gestão rompeu os canais democráticos de participação”, diz Gatti.
Trabalho Preventivo
Ainda nas palavras da funcionária, a medida da prefeitura é considerada “lamentável”. “Isso vai na contramão da história. Os CTAs têm papel chave na luta contra a epidemia da AIDS”, diz. Ela conta que, além de realizar testes para doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV, esses centros pensam em estratégias que reduzam as possibilidades daquele indivíduo contrair o vírus e buscam dialogar com as populações “chave” — de maior vulnerabilidade — dando atendimento diferenciado.
A usuária Marcela, ao analisar a relevância do CTA Santo Amaro especialmente para a população trans, diz que “no CTA, nós sempre fomos muito bem acolhidas e respeitadas em nossas especificidades. Não sofremos constrangimento ou qualquer outra coisa, e sempre tivemos um atendimento humanizado e acolhedor, diferente de várias outras ocorrências em outros espaços de saúde, inclusive no próprio CR”.
Ela também conta que outro diferencial do serviço é o fato de os CTAs serem lugares onde as pessoas que não possuem HIV podem ser atendidas sempre que quiserem, seja para fazer testes ou receber instruções. Os Centros de Referência também realizam este tipo de serviço, no entanto, “a prioridade é tratar as pessoas que já têm o vírus do HIV, e não realizar um trabalho preventivo”, o foco dos CTAs.
Perdas
Outra questão criticada é a lógica com que a medida está sendo pensada. “Infelizmente, a gente já viu que a discussão não é técnica. É um desastre, porque é uma política de retrocesso. Você não pode achar que cortando alguns custos de uma prevenção, você está fazendo uma economia”, argumenta Gatti.
Neste segunda-feira, os usuários que foram até o CTA Santo Amaro foram comunicados por meio de um aviso na porta que o serviço encontra-se fechado por “motivo de mudança”.
Ao todo a cidade conta com 10 CTAs. Assim como ocorre agora com o CTA Santo Amaro, o CTA Parque do Ipê também perdeu sua sede e foi incorporado ao Serviço de Assistência Especializada em HIV/Aids (SAE).
Edição: Juliana Gonçalves