Jovens, idosos, crianças e trabalhadores das mais diversas categorias. Esse era o quadro que compunha as mais de 40 mil pessoas que foram às ruas nesta quarta-feira (15) em Curitiba para defender sua aposentadoria. A multidão gritava palavras de ordem contra o governo golpista de Michel Temer (PMDB) e também contra o governador Beto Richa (PSDB). Enquanto o primeiro promove um desmonte dos direitos sociais, o segundo ataca os serviços públicos e servidores.
Esse cenário levou uma multidão para as ruas de Curitiba. Os manifestantes reuniram-se na Praça Santos Andrade, tradicional ponto de encontro para mobilizações na capital paranaense. De lá seguiram em marcha para o Centro Cívico, onde está localizada a sede do Governo do Estado. Na reta que leva ao Palácio Iguaçu era possível ver um mar de gente com aproximadamente um quilômetro de distância.
“Estão chamando essa decisão política de Reforma da Previdência, quando na verdade, ela significa o fim da aposentadoria. A situação é ainda mais grave quando tratamos de situações específicas, como é o caso da idade mínima para mulheres ou ainda no caso dos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Tudo isso com qual motivo? Para desmontar a previdência social e forçar os trabalhadores a procurarem a previdência privada”, afirma a presidenta da CUT Paraná, Regina Cruz.
Enquanto ela discursava em um caminhão de som, diversos grupos de jovens protestavam na Praça Santos Andrade, o pronto de concentração para a manifestação. Um deles era Miguel Júnior dos Santos, de 16 anos, aluno da escola Marcílio Dias. Ele não poupou os governantes em sua análise. "O governo está fazendo uma covardia contra o povo. Todo mundo acreditava que ele ia fazer uma coisa e no final acabou fazendo outra completamente diferente”, acusou.
Ao lado dele, Ane Caroline, de 15 anos, aluna do colégio Timbu Velho, em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba. “Nos organizamos com nossos colegas para chegar até aqui já que não tinha ônibus. Nós vamos lutar pelos nossos direitos sim”, garantiu a jovem. Qual é o principal receio dela com receio à reforma da previdência? “Cara, é tudo. Imagine só minhas avós, minha mãe e eu mesma trabalhando com mais de 70 anos. Não aceito isso de forma alguma. Digo para todos que vão atrás, vão para as ruas. Vamos correr atrás dos nossos direitos e não vamos ficar calados não”, garantiu.
Professores da rede pública de ensino e funcionários de escola também foram à luta. Em pé de guerra com o governador Beto Richa (PSDB), que não está cumprindo os acordos que colocaram fim na última greve e, mais recentemente, estabeleceu uma série de medidas que vão contra a legislação em vigor. Uma delas diz respeito ao tempo dispensado para os professores na hora-atividade.
O presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão, destacou que no Paraná os direitos dos trabalhadores são atacados nas mais diversas esferas. "Estamos ao mesmo tempo com o Governo Federal e o Governo do Paraná organizados de forma autoritária, desrespeitando leis, ameaçando e criminalizando as lutas. No entanto, nós estamos resistindo, estamos chamando as categorias todas e acho que esse dia 15 de março já é um dia vitorioso para todos nós trabalhadores”, avaliou Leão.
Questionado se esse momento, apesar de todos os retrocessos colocados em pauta, está servindo como momento de reorganização da classe trabalhadora o professor avaliou de forma otimista. "O Brasil ficou um largo período sem a necessidade de uma greve nacional geral. Hoje a greve nacional da educação está recebendo apoio. Isso é muito bom. Temos luta e não estamos vencidos. Vamos vencer essa etapa”, argumentou.
Além das mulheres e dos trabalhadores do campo, que serão extremamente prejudicados com a reforma providenciaria de Michel Temer, outra categoria que sofrerá será a da construção civil. Submetida diariamente a uma carga de trabalho extenuante e que exige muito esforço físico, o aumento no tempo de aposentadoria poderá ser fatal.
"Nós temos dois fatores complicados. O primeiro deles é a rotatividade. Nosso pessoal não consegue atingir essa idade mínima nunca, morre antes. A outra é a agressividade do trabalho que não vai dar condições do cidadão viver. O trabalhador da construção civil com mais de 60 anos está sobrevivendo com dores e sofrimento”, relatou o diretor do Sindicato da categoria em Curitiba e Região, Domingos de Oliveira Davide.
De acordo com ele, com o período de crise a idade máxima para os trabalhadores serem contratados é de 40 anos. “No tema da rotatividade chegamos a ter trabalhadores que durante um ano chegam a ter duas ou três demissões, isso por que quando acaba a obra se não há outra ele é demitido. Então não vai atingir essa idade mínima nunca”, garantiu.
Em Curitiba, outras categorias também uniram-se à greve promovida nesta quarta-feira (15). Motoristas e cobradores de ônibus, metalúrgicos, petroleiros, bancários, o magistério e outros servidores municipais também cruzaram os braços.
Na região central os bancos ficaram fechados e até o final desta reportagem as linhas de ônibus não tinham voltado a funcionar de forma mínima, apesar dos esforços de parte do poder judiciário, dos empresários e suas entidades representativas.
Paraná - Em todo o Estado, segundo estimativas preliminares, as manifestações levaram mais de 100 mil pessoas às ruas. Mobilizações de grande porte aconteceram em cidades como Maringá, Foz do Iguaçu, Cascavel, Londrina, entre outras.
Audiência Pública
Ainda na manhã desta quarta-feira (15) uma audiência pública reuniu parlamentares e representantes do movimento sindical na Assembleia Legislativa do Paraná. Na pauta a reforma da previdência, seus reflexos para a sociedade e mecanismos de mobilização para barrar o fim da aposentadoria no Congresso Nacional.
Edição: Ednubia Ghisi