Andando por tudo quanto é cidade, fico vendo as pessoas, quase todas, fechadas nelas mesmas, sem conversar com ninguém, só mexendo em telefones celulares, mandando ou recebendo fotos e mensagens, feito doidas.
Por mais que o tempo passe, não me acostumo com isso. E recentemente vi estudos que mostram que quanto mais as pessoas ficam mexendo nessas coisas, mais ficam solitárias.
Concordo. E acho que ficam mais chatas também.
Recentemente, vi no metrô em São Paulo uma menina tentando conversar com a mãe, e não era atendida. Perguntava, perguntava, e a mulher nem ouvia, só mexia no celular. A filha chegou a falar: “Tá surda, mãe?”. E nem assim ela respondeu.
Essas pessoas não conversam mais, nem com os filhos.
Apesar de achar que o telefone celular e a internet são muito úteis e facilitam muitas coisas, acredito que vão também virando instrumentos de distanciamento entre as pessoas.
Chego a ter saudade de um tempo em que tudo era mais difícil. Pelo menos as pessoas eram mais próximas, e conversavam.
Telefone era pouca gente que tinha.
Na minha casa, não tinha nem mesmo rádio, até eu completar 13 anos de idade.
Quando tinha 15 anos vi num jornal a propaganda de aparelhos de rádio a pilha. E fiquei fascinado!
Pra mim era uma grande novidade. E não era só pra mim.
Um amigo, Arlindo, me contou como ficou impressionado quando apareceu apareceram os rádios a pilha na pequena cidade em que morava, no Sul de Minas.
Foi uma grande alegria para ele, que era jovenzinho. Ele costumava ficar na praça até de madrugada, bebericando uma cachaça e, nessa época, arrumou dinheiro, comprou um rádio desses. O rádio ficou sendo seu companheiro de boemia.
Uma noite, o Arlindo se sentia meio sozinho ouvindo o rádio a pilha, andou por quase toda a cidade e não encontrou ninguém pra conversar.
Aí se lembrou do amigo Sabatino, que era padeiro e trabalhava de madrugada.
Pegou o rádio e uma garrafa de cachaça e foi para a padaria. Ficou conversando com o Sabatino, ouvindo músicas e bebericando, acompanhado pelo amigo padeiro, entre uma fornada de pão e outra.
A certa altura, o rádio começou a tocar uma rumba dos tempos em que os dois começaram a frequentar bailes.
Animado, o Arlindo tirou o Sabatino pra dançar, e ele topou.
Quando a música estava terminando, os dois dançando e cantando, sentiram um cheiro de queimado, vindo do forno. Um monte de pão queimado, perdido! E o Sabatino tentou culpar o Arlindo:
— Que prejuízo! A culpa é sua.
O Arlindo reagiu:
— Minha não! Você é que tem que cuidar do forno.
— Mas foi você que me tirou pra dançar.
— Ora, você bem que podia ter me dado tábua!
Edição: Camila Maciel