O mundo prendeu a respiração pouco antes do fechamento das urnas na Holanda, que votou na última quarta-feira (15): qual seria o desempenho do partido de extrema-direita PVV, liderado pelo xenófobo Geert Wilders? Se ele vencesse, a União Europeia estaria em risco?
Já nas primeiras pesquisas de boca de urna, viu-se que a agremiação não teve o resultado que se esperava – e que outra força teve grande crescimento: a Esquerda Verde (em holandês, GroenLinks ou GL), liderada por Jesse Klaver, frequentemente comparado ao primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
Com 96% das urnas apuradas – à mão, por medo de hackers – o VVD, do premiê (provavelmente reeleito) Mark Rutte conseguiu 33 assentos (8 a menos do que na eleição de 2012); o PVV, de Wilders, 20 (5 a mais); os Cristão-democratas e o partido D66, 19 cada um; a Esquerda Verde, 14 (um crescimento de dez assentos), mesmo número do Partido Socialista, que perdeu uma cadeira em relação a 2012. O grande perdedor da eleição foi o social-democrata PvdA (Partido do Trabalho), que conseguiu somente 9 postos, contra 38 de cinco anos atrás.
A Esquerda Verde se formou em 1989, em uma junção do Partido Comunista da Holanda, o Partido Socialista Pacifista, o Partido Político de Radicais e o Partido do Povo Evangélico. A agremiação defende, principalmente, a distribuição de renda com ações de sustentabilidade e se coloca a favor da entrada de refugiados e da participação do país na União Europeia.
Para a pesquisadora brasileira Patricia Schor, da Universidade de Utrecht, o GL se aproveitou de uma lacuna deixada pelo Partido do Trabalho. “O PvdA entrou em uma coligação com a direita (VVD) e jogou sua agenda popular e socialista no lixo. O eleitorado de esquerda estava à procura de um novo partido de esquerda, e a opção corriqueira sempre foi o Partido Socialista (SP), que, porém, é visto como antiquado”, diz.
Líder
Um dos responsáveis pelo grande crescimento é o carismático líder do partido, Klaver, de apenas 30 anos, filho de um marroquino (nacionalidade que é alvo comum da extrema-direita no país) e de uma holandesa com raízes indonésias. Pela própria história pessoal, conseguiu ser um contraponto ao discurso xenófobo e islamofóbico de Wilders.
Nos comícios, em que o público jovem era maioria, era frequente ouvir gritos de “Jesse we can” (em uma inspiração torta no slogan que levou Barack Obama à Casa Branca em 2008) – em holandês, a pronúncia de ‘Jesse’ é muito próxima à do inglês ‘yes’.
A própria plataforma do GL, montada por Klaver, reforçava a palavra “mudança”. “Nós temos uma chance única de mudar a Holanda”, afirmou pelo Facebook, um dia antes das eleições. “Você pode determinar em que tipo de país vamos acordar na quinta-feira.”
No entanto, Schor vê problemas no partido. “Ao meu ver, o GL não coloca questões importantes ao capitalismo neoliberal, por isso não estou convencida que representa uma grande (e necessária) mudança com relação aos partidos de esquerda do establishment político”, diz.
Edição: Opera Mundi