Políticos como o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) indicaram os superintendentes de Agricultura em seus estados. Tanto o superintendente em Alagoas como o da Bahia são afilhados políticos desses parlamentares, que pertencem à bancada ruralista no Congresso e dominam os partidos em seus estados.
O Observatório do Agronegócio De Olho nos Ruralistas complementa informações divulgadas pelo Estadão nesta quarta-feira (22): “Indicação política é maioria em cargos de superintendência na Agricultura“. Os repórteres Leonêncio Nossa e Lu Aiko Otta mostram que o PMDB, com dez indicações, o PP (cinco), o PSDB (duas), PTB e PR controlam as Superintendências de Agricultura, Pecuária e Abastecimento pelo país.
Isso significa que a carne que chega à sua mesa ganha um tempero político na fiscalização. A Operação Carne Fraca – deflagrada na sexta-feira (17) pela Polícia Federal – não flagrou somente carne vencida e outras irregularidades em frigoríficos, mas também um esquema de corrupção que envolvia, segundo a PF, assessores de políticos.
O observatório constata também que alguns superintendentes são, eles mesmos, pecuaristas.
Cardápio ruralista
O superintendente na Bahia, Osanah Setúval, é afilhado político dos irmãos Geddel Vieira Lima (PMDB), ex-ministro do governo Temer demitido após denúncia do ex-ministro da Cultura, e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), deputado federal. Ambos são pecuaristas e latifundiários: cada um possui mais de oito mil hectares em terras. Setúval preside o diretório do PMDB em Juazeiro.
Em Alagoas, o superintendente Alay Correia não somente foi indicado pelo PMDB. Ele é afilhado político do senador alagoano Renan Calheiros, que presidiu o Senado duas vezes nos últimos anos, lidera o PMDB no Senado e é um dos principais caciques da sigla. O clã dos Calheiros domina o PMDB em Alagoas. Correia foi prefeito de Taquarana.
Outro político de peso do PMDB que domina o partido em seu estado é o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Pois foi exatamente o PMDB que indicou o superintendente em Roraima, Plácido Alves. Ele é sobrinho do ex-deputado federal Luis Barbosa Alves (PTB, PPB, PFL). Em 2015, Plácido comemorou a liberação de R$ 850 mil, pelo Ministério da Agricultura, para combater a praga da mosca da carambola, “atendendo pleito de Jucá“.
O superintendente na Paraíba, Lucio Aurelio Braga Matos, chegou a ser exonerado do cargo em março do ano passado, pela presidente Dilma Rousseff, após rompimento com o PMDB. Mas voltou ao cargo no governo Temer. Pecuarista, candidato a prefeito de Sousa pelo PPS em 2008, ele foi indicado pelo deputado federal Hugo Motta (PMDB-PB).
Pecuaristas e fiscais
O pecuarista Rodrigo Rochael Guerra é o chefe dos fiscais da carne no Tocantins. O superintendente foi presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Araguaína. Assumiu o cargo em julho de 2016, quando o presidente Michel Temer ainda era interino. Substituiu um indicado pela ex-ministra Kátia Abreu (PMDB-TO). Ele é filho de Rubens Vieira Guerra, que foi secretário de Infraestrutura no governo de Siqueira Campos (PMDB). Outra indicação do PMDB.
Em Sergipe, o superintendente José Everaldo de Oliveira, mais um indicado pelo PMDB (com provável bênção do PSC), foi deputado federal entre 1991 e 1995. Em 1998 ele declarou possuir 231 cabeças de gado e quatro terras rurais em Poço Verde, onde foi prefeito por duas vezes. O prefeito atual, o pecuarista Iggor Oliveira (PSC), é seu filho. Oliveira tomou posse no cargo em outubro, com a presença do senador Eduardo Amorim (PSC).
O produtor rural Márcio Kangussu, indicado pelo PSDB para a superintendência de Minas Gerais, foi deputado estadual pelo partido entre 1999 e 2007. Em 1998 ele declarou quatro fazendas à Justiça Eleitoral. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) governou o estado entre 2003 e 2010.
A superintendente no Amapá, Lilia Suely Collares de Souza, também foi indicada pelo PSDB. Ela trabalhou como assessora parlamentar do ex-senador Papaléo Paes (PSDB-AP), que ficou no cargo entre 2003 e 2011. Paes é hoje vice-governador do Amapá, pelo PP. Ela foi secretária de Desenvolvimento Econômico de Macapá, na gestão do atual prefeito Clécio Luís (Rede).
Indicado pelo PP de Maggi
A reportagem do Estadão conta que o ministro da Agricultura, o produtor de soja Blairo Maggi, nomeou o superintendente afastado no Paraná, Gil Bueno de Magalhães, indicado pelo PP. E que o superintendente afastado em Goiás, Júlio Cesar Carneiro, foi indicado pelo PTB. Faltou enfatizar que o PP é o partido do ministro.
De Olho nos Ruralistas observa que o superintendente do Mato Grosso (e não MG, como está no jornal), José de Assis Guaresqui, também pertence ao partido do ministro. Ele foi vice-prefeito de Cáceres e secretário de Esportes no governo Silval Barbosa (PMDB). Sua nomeação, em 2015, revoltou servidores do órgão. Eles protestaram contra a demissão de um fiscal de carreira e sua falta de vínculo com o setor.
A Operação Carne Fraca também investiga políticos, como o chefe de gabinete do deputado Sérgio Souza (PMDB-PR). Um diretor do Ministério da Integração Nacional foi preso na sexta-feira (17), por causa de suas atividades como chefe da Assessoria Parlamentar do Gabinete do Ministério da Agricultura: “‘Carne Fraca’: número 1 na lista de prisões, diretor do Ministério da Integração Nacional é demitido“.
Poderes regionais
O Estadão informa ainda que o superintendente do Acre foi indicado pelo senador Gladson Camelli (PP-AC). E que o superintendente no Piauí foi indicado pelo PR. Aqui pode haver um ruído: Marco Aurélio Paes Landim, no cargo desde 2011, pertence a um tradicional clã político de São João do Piauí, no qual se destaca seu tio, o deputado federal José Francisco Paes Landim (PTB-PI).
O presidente do PTB no Rio Grande do Norte, Getúlio Batista da Silva Neto, é o superintendente do Ministério da Agricultura no estado. Mas também foi indicação do PMDB. Ele foi secretário da Habitação em Natal, indicado pelo deputado Walter Alves (PMDB-RN), mais um de uma tradicional oligarquia nordestina: é filho do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), por sua vez primo do ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB).
Publicado originalmente em Outras Palavras
Edição: Outras Palavras