As comunidades no entorno da obra da transposição do Rio São Francisco ainda tem dúvidas sobre quando a água vai estar disponível para elas. A inauguração popular da Transposição do São Francisco, aconteceu no último domingo (19), e contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ex-presidenta Dilma Rousseff.
As obras da transposição foram iniciadas em 2007, na segunda gestão de Lula à frente da presidência. Durante a inauguração, o ex-presidente disse que as memórias de sua infância foram decisivas para que a obra fosse levada a cabo.
“Eu nem pensei nessa obra de bonzinho, porque eu não sou letrado não. Eu pensei porque quando eu tinha 7 anos de idade eu já carregava lata d'agua na cabeça, já ia com o jumento buscar água no açude. Eu sabia que o povo do Nordeste tinha que ter direito a essa coisa elementar. Tenho muito orgulho de ter tido a coragem de iniciar esse projeto”, disse Lula.
Cerca de 50 mil pessoas participaram do evento e acreditam que se beneficiarão da obra. No entanto, as comunidades locais ainda não foram comunicadas sobre quando poderão utilizar a água, conforme conta Carmélio de Souza Guerra. Ele é presidente da associação de moradores do assentamento Serra Negra.
“A gente mora aqui há 26 anos. Eu mesmo já passei várias noites sem tomar banho e sem jantar porque não tinha água nem pra fazer a comida. Aí a gente vendo esse tanto de água passando aí, não tem riqueza maior do que essa. Só que a gente não tá se utilizando da água ainda, está vendo só passar aí”, contou.
Valdineia Alves dos Santos, que mora em uma comunidade vizinha e estuda no assentamento, explica que a comunidade ainda aguarda a liberação da água encanada.
“O cano já passa por ali, passa pela ponte para abastecer a comunidade. Eu creio que se o governo liberar vai ser uma coisa muito boa”, afirmou.
De acordo com Joaquim Cordeiro de Sá, que mora em uma comunidade vizinha à obra, quando a água encanada chegar, ela será apenas para o consumo humano e animal.
“Veio um engenheiro aí que disse que quando funcionasse o canal a água era pra todo mundo beber e os animais. Eu perguntei. ‘E a irrigação?’ Aí ele disse, não. Só depois de quatro anos que a gente vai ver se tem possibilidade de irrigar. E se tiver, cada morador vai pode molhar um hectare”, relatou.
O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), afirmou que dentro de dois meses um milhão de paraibanos vai poder beber da água da transposição do Rio São Francisco. Para o governador, no entanto, o mais importante é que a obra significa um duro golpe ao coronelismo na região.
“Talvez as pessoas não imaginem o que tenha sido ao longo dessa caminhada o domínio das oligarquias, o domínio através da lata d´água, da terra que não se podia cultivar. Esse era um retrato de uma extensão enorme. E isso significa libertação. e libertação significa inevitavelmente desenvolvimento”, disse, durante a inauguração.
Edição: Daniela Stefano