A OEA voltou a ser um Ministério das Colônias
Realmente não há mais a menor dúvida. A Organização dos Estados Americanos (OEA) sob a direção do uruguaio Luis Almagro voltou a ser um Ministério das Colônias, como na época da Guerra Fria. O Secretário-Geral Almagro, que ao assumir o cargo defendia posições progressistas, inclusive com o apoio do ex-presidente José Mujica, em pouco tempo de gestão mudou da água para o vinho, voltando-se desesperadamente contra a revolução bolivariana, agora sob o comando de Nicolás Maduro, seguidor do ideário de Hugo Chávez. Mujica, aliás, já manifestou seu posicionamento chamando a atenção de Almagro pelo que ele vem fazendo em matéria de posicionamentos que se chocam com o que defendia antes. Uma pergunta que não quer calar: o que levou Almagro em pouco tempo a dar uma guinada de 180 graus?
Almagro, sem qualquer tipo de arrependimento, passou a defender com grande ênfase a posição da direita venezuelana e quer de todas as formas expulsar a Venezuela da OEA, contando para isso com o apoio dos golpistas brasileiros, do governo argentino e de outros com posições idênticas as do Departamento de Estado norte-americano.
Como a oposição venezuelana não de hoje prega solenemente até uma intervenção externa em função de informes que na verdade têm por objetivo acabar com a revolução bolivariana, a iniciativa de Almagro reforça os defensores de ações externas contra um país independente e que o governo não aceita intervenções de qualquer tipo vindas de fora.
É preciso, portanto, que os movimentos populares se mobilizem divulgando mensagens de repúdio às iniciativas de Almagro. Não se pode aceitar que na América Latina se repita o papel de subserviência adotado pela mesma OEA nos anos 60, quando a entidade aprovou uma ação externa contra o resultado de uma eleição presidencial na República Dominicana e que contou com o apoio do então general de plantão, Humberto de Alencar Castelo Branco.
Na época, para vergonha dos brasileiros, o primeiro dos generais de plantão, Castelo Branco mandou tropas comandadas por outro general do staff golpista, de nome Meira Matos, para evitar a continuidade de um governo que tinha por objetivo promover reformas sociais para melhorar as condições de vida da população dominicana.
Hoje, o Brasil não tem a frente do governo um general de plantão, mas um civil defensor de interesses da oligarquia, que assumiu depois de um golpe parlamentar, midiático e judicial que esta fazendo o Brasil descer ladeira abaixo. Todo cuidado é pouco em matéria de apoio governamental de ações externas como as defendidas pelo uruguaio Luis Almagro na OEA e pela oposição venezuelana. E é preciso o máximo de atenção, sobretudo pelo fato de o Ministério do Exterior do governo golpista que se diz do Brasil estar sendo ocupado por um político como Aloysio Nunes Ferreira, que não esconde a subserviência aos interesses do Departamento de Estado norte-americano. Mais até, se é que é possível, do que o antecessor José Serra.
Na verdade é preciso adotar todas as providências para evitar a repetição como farsa de uma posição que venha mais uma vez envergonhar os brasileiros pensantes e questionadores. Até porque o silêncio nesta hora é por demais comprometedor.
* Mário Augusto Jakobskind é jornalista, integra o Conselho Editorial do Brasil de Fato no Rio de Janeiro, escritor e autor, entre outros livros, de Parla - As entrevistas que ainda não foram feitas; Cuba, apesar do Bloqueio; Líbia - Barrados na Fronteira e Iugoslávia - Laboratório de uma nova ordem mundial.
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