O anúncio de que o governo estuda aumentar impostos, assusta Suely de Lima sempre trabalhou no comércio e hoje é dona de um restaurante self-service em São Paulo: "Eu acho que a gente já paga muito imposto. É pedir demais pro proprietário que ainda aumente mais impostos."
A reação da Fecomércio, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo é parecida. Bastou o anúncio do governo para a instituição divulgar um nota se colocando contra a medida e afirmando que qualquer aumento de tributo, nesse momento, vai retardar o processo de recuperação da economia.
Para Fábio Pina, assessor econômico da Fecomércio, o ajuste fiscal deve se restringir ao corte de gastos do governo: "A gente entende que o governo tem que fazer o ajuste fiscal e tem. Mas ele tem gastos suficientes para fazer esse ajuste 100% com corte de gastos. É difícil fazer isso, é politicamente difícil , mas tem que ser enfrentado esse problema."
Segundo o Ministério da Fazenda, o governo tem um déficit de pouco mais de R$ 58 bilhões, quase metade dos R$ 120 bilhões do orçamento que podem sofrer cortes. Um orçamento, que segundo o ministro da Planejamento, Dyogo Oliveira, foi adequado à política de teto de gastos e já não tem mais onde cortar.
Clemente Lúcio, diretor técnico do DIEESE, Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos, concorda que o governo não tem mais onde cortar e que é preciso aumentar a arrecadação para que o governo possa ajudar a alavancar a economia e sair do que ele chama de espiral recessiva: "É evidente que nesse momento de gravíssima recessão aumentar os impostos pode-se estar triando os recursos de parte da sociedade, de parte das empresas que poderiam estar realizando investimentos, mas na prática, essas empresas não estão fazendo isso. Então, nesse momento, é importante que o estado arrecade e faça, sim, o investimento e garanta o investimento."
O medo de investir é algo que Suely, também já notou: "Se eu quiser vender meu restaurante hoje, nem sei se eu encontro comprador porque ninguém tá querendo investir."
O economista do DIEESE também defende que os impostos a serem aumentados incidam apenas sobre a renda e os bens das pessoas mais ricas.
Para o economista da Fecomércio esse seria uma medida aparentemente simpática, mas desastrosa, já que os impostos seriam repassados para a população. O governo ainda não informou quais impostos podem aumentar.
Edição: Mauro Ramos