A nota divulgada pela Petrobras na sexta-feira (31), na qual anunciou desinvestimentos e a nova rodada de venda de ativos da companhia em duas semanas, significa “destruição completa” da empresa, nas palavras do diretor de Relações Internacionais e de Movimentos Sociais da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes. Segundo o comunicado da estatal, a medida é parte do processo de “capitalização e saneamento” e envolve desinvestimentos que totalizam US$ 21 bilhões.
Para se ter uma ideia da dimensão do “pacote”, a chamada “meta de desinvestimentos”, para o biênio 2017-2018, segundo a própria Petrobras, comandada pelo tucano Pedro Parente, prevê a venda da cessão dos direitos de concessão em águas rasas nos estados de Sergipe e Ceará; a alienação de parte da participação acionária da BR Distribuidora; dos direitos de concessão nos campos de Baraúna e Tartaruga Verde, em Sergipe; e a venda da participação no Campo de Saint Malo, no Golfo do México.
“Eles estão doando tudo. Estão doando ativos na ordem de até 30 para um, em termos de valor”, diz Moraes. “A proporção é dessa ordem. O que fizeram com o campo de Iara, por exemplo. Tem o equivalente a dois anos de toda a produção brasileira e entregaram por dois bilhões de dólares, sendo que vale mais de 30 bilhões. O petróleo está a 60 dólares o barril, e estão entregando a 1,50."
Em negociações fechadas no carnaval, a Petrobras vendeu os direitos de 22,5% para a empresa francesa "Total" referentes ao campo de Iara, na Bacia de Santos, que inclui campos de Sururu, Berbigão e Oeste de Atapu. As reservas de Iara podem chegar a 4 bilhões de barris de petróleo e gás natural.
Segundo o dirigente da FUP, apesar das denúncias no Ministério Público e tentativas judiciais diante da magnitude e rapidez da operação de entrega de ativos da estatal brasileira, não há nada a fazer, a não ser a mobilização. “Conscientizar o povo a ir às ruas, fazer greve geral. Só a rua para resolver.”
Conteúdo local
Durante a tarde de hoje, Moraes e outros dirigentes estão em Brasília, para reuniões com os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para discutir as novas regras de conteúdo local previstas para vigorar em setembro, na 14ª rodada de licitações de blocos para exploração de petróleo e gás natural, e novembro, em nova rodada de leilões de blocos no pré-sal.
Em fevereiro, o governo anunciou mudanças na exigência de conteúdo local para contratações de equipamentos pela indústria de petróleo.
“O ataque ao conteúdo local parte principalmente dos interesses das grandes petroleiras mundiais, que querem vir ao Brasil trazer sua cadeia de fornecedores junto e exportar o emprego brasileiro para eles”, disse à RBA o deputado Davidson Magalhães (PCdoB-BA), organizador de comissão geral realizada na semana passada para debater o assunto na Câmara.
O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) lançou ontem a Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval Brasileira. Segundo ele, a iniciativa tem o objetivo de acompanhar as demandas do setor, “exigir do governo Temer medidas que recuperem os polos navais e lutar pela manutenção e proteção dos empregos, investimentos e a política de conteúdo local”, segundo postagem no Facebook.
Edição: Rede Brasil Atual