Em meio ao feriado de Páscoa e com menos de dois dias de mobilização, um ato contra a homofobia e em solidariedade ao casal João Pedro Schonarth e Bruno Banzato reuniu cerca de 300 pessoas neste sábado (15), na Praça Elias Abdo Bittar, bairro Água Verde, em Curitiba. A manifestação reuniu amigos, familiares, lideranças do movimento LGBT e futuros vizinhos do casal.
O local do ato fica a menos de duas quadras da futura residência do casal, região onde foram espalhados panfleto homofóbico anônimos na última quinta-feira (13). Os jovens são casados há sete anos e há dois estão na fila para adoção de uma criança.
Abraços, presentes, palavras de acolhida, sorrisos e também lágrimas permearam o encontro. "Eles vão ser muito felizes aqui, tenho certeza. Tem mais pessoas boas que más", disse Maria Ângela Karasinski, uma das dezenas de moradoras do bairro que estiveram do ato. "Só respeito basta. Só respeito. Você nunca deve fazer ao outro o que não quer que façam a ti", garantiu.
Maria, que mora na região há 20 anos, se emocionou ao dizer o que deseja para o casal: "Eu quero que eles sejam muito felizes, que concluam a adoção e sejam um exemplo para a pessoa que cometeu esse crime [a homofobia]".
Para João Pedro Schonarth, jornalista de 29 anos, as milhares de manifestações que ele e o companheiro receberam via redes sociais e durante o ato são uma "avalanche de carinho e afeto", e garante que é este acolhimento que as pessoas LGBT precisam ter. "As pessoas sofrem violência diariamente por serem diferentes, mas a gente tem muito mais em comum do que de diferente. Nós temos os mesmo sonhos, as mesmas vontades. Nós queremos ter uma casa, uma família, qualidade de vida", completa.
"A homofobia tem diversas caras, se apresenta em panfletos, em ameaças de morte, em violência física, e por isso as pessoas ficam vulneráveis. Mas atos como esse mostram que o preconceito não tem mais espaço hoje. São ações isoladas que não representam o que a maioria das pessoas pensa. O que a maioria quer é compartilhar o amor e uma sociedade mais justa", avalia o jornalista.
O ato começou por volta das 15h, com pronunciamentos e de participantes, apresentações musicais e palavras de ordem. Por volta das 16h30 os manifestantes seguiram em caminhada por duas quadras até a frente da futura residência do casal. Às 17h o grupo retornou para a praça acompanhado de uma pequena banda de percussionistas.
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A "ponta do iceberg"
Para Toni Reis, diretor executivo do Grupo Dignidade, o caso de homofobia que atingiu João e Bruno é "a ponta do iceberg". Nos últimos 15 anos, segundo o militante, foram 178 assassinatos de pessoas LGBT no Paraná, sendo 80% somente em Curitiba.
"Nós temos que lutar, denunciar, exigir das autoridades constituídas, Ministério Público, Secretaria de Segurança Pública, para que haja educação preventiva e para que os crimes sejam apurados", cobrou.
O Grupo Dignidade presta apoio jurídico ao casal desde a quinta-feira. "Já temos alguns suspeitos que em breve serão intimados. Este caso precisa ser elucidado de forma exemplar", garantiu Reis, que participou da manifestação neste sábado.
Representante da Ordem dos Advogados do Brasil do Paraná (OAB-PR), Marcel Jerônimo, também esteve no ato declarou que a entidade irá acompanhar as investigações sobre o caso.
Entenda o caso
Na última quinta-feira (15), folhetos foram espalhados anonimamente na rua e nas redondezas para onde o casal irá se mudar nos próximos dias. "Em breve, a sua rua será mais ‘alegre’", Se fazem isso em público, imaginem o que fazem quando estão a sós ou com amigos mais próximos, ou com pessoas próxima a você", diziam alguns dos trechos do panfleto, entre outras frases preconceituosas. Os jovens registraram um boletim de ocorrência por crime de injúria.
Durante o ato deste sábado, João Pedro Schonarth lamentou o fato de a legislação brasileira ainda não prever o crime de homofobia.
Edição: Redação