“Estamos aqui para relembrar todos os mártires que deram sua vida para que a luta pela terra possa um dia se converter numa verdadeira reforma agrária. Essa é a luta mais justa que há”. Assim, o deputado federal João Daniel (PT-SE) reforçou a importância deste 17 de abril, data em que se celebra o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Daniel foi um dos parlamentares que junto com autoridades, pesquisadores, dirigentes políticos e militantes de movimentos do campo participaram da sessão solene realizada nesta segunda-feira (17) na Câmara dos Deputados e relembraram o histórico da disputa pela distribuição de terras no Brasil.
De caráter eminentemente político, a solenidade demarcou os 21 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, quando 21 trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados e outros 69 ficaram feridos. A chacina ocorreu durante uma marcha que reivindicava a democratização do acesso à terra por meio do processo de reforma agrária popular. Desde então, o dia 17 de abril foi instituído como data em que se rememora a luta dos sem-terra.
Em seu discurso, o deputado João Daniel lembrou ainda que o Massacre de Eldorado dos Carajás “foi um acontecimento trágico para o nosso país. Como se vê, a política de regularização fundiária foi iniciada há mais de 150 anos e ainda não alcançou os resultados esperados”.
A realização da sessão foi solicitada por ele e pelos deputados Marcon (PT-RS), Valmir Assunção (PT-BA) e Carlos Zarattini (PT-SP), este último líder da bancada petista na Casa.
O agricultor Ademilton Oliveira da Silva é um dos militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que compareceram à solenidade. “Pra nós, este momento aqui é uma tristeza e, ao mesmo tempo, uma alegria porque fortalece a nossa luta, a nossa história. Nós só queremos uma reforma agrária digna para poder trabalhar e cuidar das nossas famílias. As pessoas precisam entender isso”, disse o agricultor, que está na fila da reforma agrária e integra um acampamento do MST no Distrito Federal há cerca de seis meses.
Já o embaixador da Bolívia no Brasil, José Franco, destacou a parceria entre o governo do seu país e os movimentos populares que lutam pela democratização do acesso à terra. “Somos solidários com a luta dos camponeses brasileiros e respaldamos a luta pela reforma agrária, que simboliza a luta por justiça e pelo acesso à terra”, afirmou.
Retrocesso
O dirigente do MST Alexandre Conceição destacou que a luta dos camponeses por direitos caminha junto com a história do Brasil e se estende aos dias atuais. Ele salientou que o cenário político pós-golpe trouxe muitas preocupações aos movimentos do campo, como a Medida Provisória (MP) 759 que tramita na Câmara e trata da regularização fundiária no país. Na avaliação do MST, a medida caminha no sentido contrário ao da reforma agrária.
Conceição também lembrou que este dia 17 de abril marca o aniversário de um ano do afastamento da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) pelo plenário da Câmara. Ele sublinhou que desde então os camponeses têm reforçado a luta por direitos. “Enquanto houver latifúndio, haverá foice e facão destruindo as cercas para fazer a reforma agrária. Enquanto houver latifúndio, este governo não terá paz e pode esperar da nossa parte resistência e luta”, afirmou o dirigente em plenário.
Edição: Vanessa Martina Silva