Beleza é algo que se vê, mas também que se sente. No Rio de Janeiro algumas meninas resolveram levar isso a sério. Elas não estavam felizes com o cabelo alisado e decidiram dar um grito de liberdade. “Solta esse black”, disseram às amigas. E a moda pegou. Na verdade, é mais que moda. É a atitude de assumir sua verdadeira identidade, reprimida e desconstruída ao longo dos anos.
Foi assim que as estudantes da Escola Municipal Levy Miranda, na Pavuna, zona norte do Rio, decidiram criar o coletivo de mulheres “Solta esse black”. Sete adolescentes e a professora Pâmela Souza da Silva foram construindo espaços de diálogo para dividirem suas experiências e dores, assumir os fios naturais, sem qualquer química ou método de alisamento.
“No nosso país os alisamentos estão muito presentes nas vidas das mulheres com cabelos crespos e essa onda bate como tsunami nas nossas cabeças. Há uma geração de mulheres com cabelos opacos, fios porosos e fracos, que caem aos tufos a cada banho, como efeito do alisamento”, explica a estudante Brenda Marcelli Rodrigues de Oliveira, de 16 anos.
Ela afirma ainda que mesmo entre as mulheres famosas, que costumam ditar moda, são poucos os casos entre as negras que usam o cabelo crespo natural. Muitas delas contam histórias trágicas envolvendo danos à saúde e à beleza. “Um dos casos mais graves que conheço é o da modelo britânica Naomi Campbell, que hoje tem uma falha irreversível na parte da frente da cabeça”, conta Brenda.
Para combater essa ditadura do alisado, que as estudantes criaram oficinas, debates e rodas de conversa. Aceitação, motivação e autoestima eram sempre os temas em discussão. Já na primeira oficina reuniram mais de 200 estudantes. Foi um sucesso e até ganharam o prêmio “Criativos das Escolas”, que reconhece iniciativas inovadoras em escolas municipais de todo país.
“O impacto na escola foi incrível. Foi além do cabelo. Até meninas que não se falavam, que tinham rixas, se uniram. Passaram a se cuidar mais, a se falar, a se olhar”, afirma a professora Pâmela Souza.
Juntas, as estudantes vão aprendendo a valorizar os traços físicos herdados de seus ancestrais, símbolos de resistência. E descobriram a beleza na sua verdadeira identidade cultural. Agora elas sabem: são negras e belas.
Edição: Vivian Virissimo