Quase duas semanas após a chacina de nove moradores de um assentamento em Colniza, os órgãos de segurança de Mato Grosso continuam em busca do mandante do crime, que é considerado foragido. De acordo com a Polícia Civil, o suspeito de ordenar as execuções já foi identificado, e as autoridades negociam a entrega com seu advogado.
Em entrevista coletiva para detalhar as investigações até o momento, o secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, Roger Jarbas, disse que, apesar dos conflitos fundiários na região, a razão do massacre teria sido a disputa pela madeira. “A motivação, ao que tudo indica até agora, é a exploração ilegal de madeira e de minério na região.”
Dois suspeitos dos assassinatos foram presos no domingo (30) e na segunda-feira (1º): Pedro Ramos Nogueira, conhecido como Doca, de 52 anos, e o sobrinho dele, Paulo Neves Nogueira, de 35. A identidade de outros dois envolvidos também foi divulgada pela polícia: Ronaldo Dalmoneck, conhecido como Sula e suspeito de ser o responsável pela decapitação de algumas das vítimas; e Moisés Ferreira de Souza.
De acordo com as investigações, Souza é o chefe do grupo dos “encapuzados”, que já havia feito ameaças aos moradores do local. Ex-policial militar de Rondônia, ele teria treinado os executores do crime, de acordo com a Polícia Civil. Os quatro tiveram as fotografias divulgadas pelo governo estadual nesta terça-feira (2).
Segundo o titular da Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa, Marcelo Miranda, os dois presos estão colaborando com as investigações. “Estamos mantendo sob sigilo a identidade do mandante, porque, no momento, ele está foragido. Estamos procurando, por meio do advogado dele, que ele se apresente o mais rápido possível." De acordo com o delegado, o nome precisa ser mantido em sigilo para que ele não fuja, e a prisão possa ser feita.
A chacina ocorreu no dia 20 de abril, perto do distrito de Guariba, em uma área denominada Taquaruçu do Norte, a 350 quilômetros da sede de Colniza. O município, que é um dos líderes no ranking de desmatamento na Amazônia, fica a 1.065 quilômetros de Cuiabá. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), há mais de 10 anos são comuns conflitos fundiários no local, onde já ocorreram outros assassinatos e agressões.
“A situação aparentemente se tranquilizou. Algumas famílias estão voltando”, disse o delegado Miranda. Nos últimos dias, moradores da área começaram a deixar suas casas com medo de novos episódios de violência.
Denúncias
Segundo o delegado regional de Juína, José Carlos de Almeida Júnior, as polícias Militar e Civil vinham fazendo o trabalho de inteligência e prevenção dos crimes na região, mas a situação era complexa. “As pessoas que eram ameaçadas chegavam à delegacia e diziam que eram apenas esses encapuzados. Não tinham coragem de mencionar os nomes. Não havia colaboração, muito em razão do medo das pessoas que lá estavam. Chegavam à delegacia e falavam: 'olha, a gente vai falar aqui, depois quem vai fazer a nossa segurança?'”
Ainda de acordo com Almeida Júnior, as varreduras eram prejudicadas porque o assentamento é de difícil acesso e antes que as viaturas chegassem ao local, os criminosos eram avisados por um serviço de “contrainteligência”.
(*) Locução: Renata Martins, da Radioagência Nacional
Edição: Luana Lourenço