"Temos artemísia, manjericão roxo e o branco, temos poejo, hortelã, levante, menta, alecrim, erva-doce, arruda, capim limão, cidreira, citronela. No caso de plantas medicinais temos confrei, terramicina, caatinga de mulata, cana de macaco e chapéu de couro.". É assim que a trabalhadora rural Sanuza Mota recebe os clientes que chegam à sua barraca de plantas medicinais, mudinhas e sementes, na 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária.
Sanuza é do setor de produção do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no assentamento Zumbi dos Palmares, município de São Matheus, no Espírito Santo. Ela possui um horto em casa, onde cultiva mais de 68 variedades de plantas medicinais e desenvolve pesquisa com sementes crioulas de milho.
“Tenho a semente crioula do milho catete sabugo fino e do Fortaleza. O último foi desenvolvido na região norte do Espírito Santo, em adaptação ao clima da seca e tem demonstrado ótimo desempenho de produtividade. Em sua maioria os milhos usados amplamente pela sociedade são geneticamente transformados, transgênicos e a gente quer a cada dia buscar nos alimentar saudavelmente, para que eu possa comer um energético, o amido de milho, com tranquilidade", observa Mota.
Ela conta que demorou dois dias para chegar à São Paulo, mas está muito satisfeita com a aventura e ressalta a quantidade de produtos que seu estado trouxe: Estamos em 18 pessoas do Espírito Santo. Trouxemos milho, farinha, biscoitos, doces, geleia, mel, mas ficamos em 4 pra cuidar do espaço planta porque é uma quantidade maior e você tem que apresentar pro cliente o que é a planta, tem que conversar, é um trabalho mais minucioso, de corpo a corpo, com a pessoa", ressalta.
O técnico em telecomunicações, Expedito Meneses Neves mora próximo ao Parque da Água Branca, onde ocorre a feira e veio à procura de pimenta-do-reino: "Eu me interessei pela pimenta aqui, pra apartamento, porque ela tem que levar sol. Pimenta do reino é condimento, comida, toda dona de casa usa. Se eu plantasse eu colhia.", comenta.
Ele participou da primeira Feira, lembra com carinho e comenta que trará a família para o segundo dia do evento: "Essa é a segunda feira já que eu participo. Estou a semana inteira aqui. Achei legal, tudo é bom, bacana, bonito e gostoso. Amanhã vou trazer minha esposa!", responde Neves.
Propriedades e preços
Sanuza acompanha seus clientes, sempre explicando sobre a propriedade de cada planta: "Tem muita gente que gosta de espantar maus fluidos com comigo ninguém pode e do Guiné, que é natural da África. Ela já foi muito utilizada para dor de cabeça, reumatismo. Quem gosta coloca ele no vinho, na cachaça, isso pra quem gosta de beber. Quem não gosta toma um chazinho. Ele é muito utilizado em rituais também.", alerta.
A arquiteta Lícia Oliveira foi a primeira a chegar e ficou sabendo da Feira através da divulgação do evento nas redes sociais. Ela deixou as mudinhas de manjericão e alecrim por último, para poder carregá-las. Lícia elogiou a qualidade dos produtos, os preços e a iniciativa do MST, que que divulga seu trabalho: "Eu acho que pra população é importante, principalmente pra divulgar, pra mostrar a importância do trabalho dos pequenos produtores, do movimento mesmo. Na verdade eu acho que os pequenos produtores que deveriam tomar conta de tudo e acabar com o agronegócio. A feira é ótima pro MST principalmente por isso: mostrar pra sociedade quem eles são e a importância do trabalho deles.", finaliza.
A capixaba diz que trouxe 50 mudas de Babosa, com preços entre 10 e 15 reais, dependendo do tamanho da muda. Há mudinhas e plantas medicinais de 2 a 10 reais e plantas ornamentais que chegam ao máximo a 30 reais, o valor mais caro de sua produção.
A 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária trouxe mais de 800 feirantes, de 23 estados do Brasil e funciona no Parque da Água Branca, até o próximo domingo (7), com ampla programação cultural, gastronômica e musical, das 8h às 19h.
Edição: Anelize