Movimentos populares

Em nota, entidades denunciam retrocessos do governo Temer pautados pelo agronegócio

Movimentos populares denunciam ataques aos direitos humanos, políticas de reforma agrária e proteção ambiental

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Frentes denunciam a atuação da bancada do agronegócio, que está em harmonia com o núcleo central do governo federal
Frentes denunciam a atuação da bancada do agronegócio, que está em harmonia com o núcleo central do governo federal - Fabio Rodrigues-Pozzebom

Entidades e movimentos sociais se unem em manifesto contra os retrocessos do governo do presidente golpista Michel Temer e grupos de interesse instalados no Congresso Nacional.

Em documento, as frentes denunciam a atuação da bancada do agronegócio que está em harmonia com o núcleo central do governo federal e faz avançar "de forma organizada e em tempo recorde, um pacote de medidas que inclui violações a direitos humanos, "normalização" do crime ambiental e promoção do caos fundiário".

A nota lista uma série de ataques às conquistas dos movimentos sociais, como as tentativas de exterminar as políticas de reforma agrária e do uso social da terra contidas na Medida Provisória (MP) 759, os esforços para a extinção das Unidades de Conservação, a facilitação e legalização da grilagem de terras e os ataques contra direitos e territórios indígenas.

Ao fim da declaração, os grupos convidam a população e demais setores organizados da sociedade a somarem esforços para impedir tais retrocessos.

Confira a íntegra da nota:

Governo e ruralistas se unem contra o futuro do país

Nos últimos anos, as agendas socioambiental, de direitos humanos e de trabalhadores do campo têm sido alvo de ataques sistemáticos por grupos de interesse instalados no Congresso Nacional e no Executivo Federal. Nem mesmo direitos garantidos pela Constituição estão a salvo.

Atualmente estes ataques ganharam uma nova dimensão. Em meio ao caos político que assola o país, a bancada do agronegócio e o núcleo central do governo federal fazem avançar, de forma organizada e em tempo recorde, um pacote de medidas que inclui violações a direitos humanos, "normalização" do crime ambiental e promoção do caos fundiário. Se aprovadas, tais medidas produzirão um retrocesso sem precedentes em todo o sistema de proteção ambiental, de populações tradicionais e dos trabalhadores do campo, deixando o país na iminência de ver perdidas importantes conquistas da sociedade ocorridas no período democrático brasileiro.

Às tentativas de aniquilação das políticas de reforma agrária e do uso social da terra, contidas na Medida Provisória (MP) 759, somam-se iniciativas de extinção de Unidades de Conservação, a facilitação e legalização da grilagem de terras e os ataques contra direitos e territórios indígenas.

Em conjunto, tais investidas buscam disponibilizar estoques de terras para exploração desenfreada e também para serem negociadas através do projeto que libera a venda de terras para estrangeiros.

A lista de retrocessos segue com as tentativas de enfraquecimento do licenciamento ambiental e da fiscalização sobre a mineração; a liberação do uso e registro de agrotóxicos, inclusive daqueles proibidos em diversos países do mundo; a ocupação de terras públicas de alto valor ambiental; a concretização das anistias a crimes ambientais e o ataque a direitos trabalhistas e sociais de populações camponesas e de trabalhadores rurais.

Para o avanço rápido desta agenda, governo e parlamentares armam tramitações expressas no Congresso e fazem uso desmedido de medidas provisórias, inclusive para temas que já se encontram em debate no legislativo, excluindo assim a possibilidade da participação da sociedade e de estudiosos dos temas.

Além de colocar em risco a nossa própria soberania e segurança alimentar, a aprovação de tais medidas resultará em maior concentração fundiária; na inviabilidade econômica de pequenos produtores rurais e da agricultura familiar, dos quilombolas e povos indígenas; no aumento da violência e da disputa por terras; no beneficiamento da grilagem de terras públicas e na mercantilização dos assentamentos rurais e da reforma agrária.

O desmatamento será impulsionado de forma decisiva, colocando por terra todo o esforço da sociedade que levou à redução do desmatamento na Amazônia em cerca de 80% entre os anos de 2004-2014, nos afastando do cumprimento de compromissos internacionais assumidos em convenções sobre clima e sobre biodiversidade, de direitos indígenas e direitos humanos. Este conjunto de fatores poderá potencializar as dinâmicas das mudanças climáticas, impondo graves prejuízos à economia, aos produtores rurais e à toda população do campo e das cidades.

A participação do governo na ofensiva orquestrada contra os direitos, territórios da diversidade e meio ambiente revela um retrocesso político histórico: além da renúncia à obrigação constitucional de tutela dos direitos difusos e de minorias, escancara uma concepção de País calcada no desprezo pela natureza e pelo conhecimento sobre ela em função de interesses econômicos imediatos, reproduzindo o modelo excludente de expansão do agronegócio e facilitando a implementação de projetos frequentemente ligados a esquemas de corrupção e má-gestão dos recursos públicos.

Diante do exposto, as organizações e movimentos dos mais diversos campos de atuação abaixo assinados se unem para denunciar e resistir à perversa agenda de desmonte das conquistas socioambientais, e convidam a população e demais setores organizados da sociedade a somarem esforços no sentido de impedir tais retrocessos.

Assinam:

1. 350.org

2. Abraço Guarapiranga

3. ActionAid

4. AdT/Amigos da Terra

5. AFES/Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade

6. Aldeia Guarani Kalipty - Parelheiros

7. Aldeia Guarani Tenondé Porã - Parelheiros

8. ANA/Articulação Nacional de Agroecologia

9. Amazon Watch

10. APIB/ Articulação dos Povos Indígenas do Brasil

11. Apremavi/Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida

12. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil

13. Associação Mico-Leão-Dourado

14. BVRio

15. Cáritas Nacional

16. Casa Ecoativa - Ilha do Bororé

17. CEBES/Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

18. CBJP/Comissão Brasileira Justiça e Paz

19. CDDHEP/Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre

20. CIMI/Conselho Indigenista Missionário

21. Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil

22. Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração

23. Comissão Pró-Índio de São Paulo

24. CONAQ/Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas

25. Conectas Direitos Humanos

26. CONTAG/Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares

27. Coração Amazônico

28. Cooperapas/Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais de Água Limpa -SP

29. CNS/ Conselho Nacional das Populações Extrativistas

30. Consulta Popular

31. CPT/Comissão Pastoral da Terra

32. CUT/Central Única dos Trabalhadores

33. Engajamundo

34. Escola de Ativismo

35. Espaço de Formação Assessoria e Documentação

36. FAOR/Fórum da Amazônia Oriental

37. FASE/Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional

38. Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social

39. FURPA/Fundação Rio Parnaíba

40. Greenpeace Brasil

41. Grupo Carta de Belém

42. IBASE/Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

43. ICV/Instituto Centro de Vida

44. IDESAM/Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas

45. IDS/Instituto Democracia e Sustentabilidade

46. IEMA/Instituto de Energia e Meio Ambiente

47. Intersindical - Central da Classe Trabalhadora

48. IMAFLORA/ Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola

49. Imargem - Arte, Meio Ambiente e Convivência

50. IMAZO N/ Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia

51. INESC/ Instituto de Estudos Socioeconômicos

52. International Rivers Brasil

53. Instituto Pólis

54. Instituto Avaliação

55. ISA/Instituto Socioambiental

56. Justiça nos Trilhos

57. Liga Brasileira de Lésbicas

58. Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais

59. MAB/Movimento dos Atingidos por Barragens

60. MAM/Movimento pela Soberania Popular na Mineração

61. MCP/Movimento Camponês Popular

62. MMC/Movimento de Mulheres Camponesas

63. Mogave/Movimento Garça Vermelha

64. Movimento Contra o Aeroporto de Parelheiros

65. Movimento Aeroporto de Parelheiros NÃO!

66. MPA/Movimento dos Pequenos Agricultores

67. MST/ Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

68. MTST/Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

69. Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos - Diversitas/USP

70. Núcleo de Pesquisa e Extensão em Ambiente, Socioeconomia e Agroecologia/NUPEAS-UFAM

71. Observatório do Clima

72. Observatório de Favelas, da favela da Maré, Rio de Janeiro

73. OCCA/Observatório dos Conflitos do Campo - Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

74. Organon/Núcleo de estudo, pesquisa e extensão em mobilizações sociais da UFES

75. PAD/Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Ecumênicas Européias e Parceiros Brasileiro

76. PHS/Hospitais Saudáveis

77. PFDC/Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do MPF/Ministério Público Federal

78. PJR/Pastoral da Juventude Rural

79. Plataforma Operária e Camponesa para Energia

80. RAMH/Rede Acreana de Mulheres e Homens

81. Rede Brasileira de Informação Ambiental

82. Rede GTA/Grupo de Trabalho Amazônico

83. SAVE Brasil

84. Sinfrajupe/Serviço InterFranciscano de Justiça, Paz e Ecologia

85. SBE/Sociedade Brasileira de Espeleologia

86. SOS Mata Atlântica

87. Toxisphera Associação de Saúde Ambiental

88. UBM/União Brasileira de Mulheres

89. Uma Gota no Oceano

90. UNALGBT/União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

91. Via Campesina

92. WWF Brasil

 

 

 

 

Edição: Camila Rodrigues da Silva