Em 1947, a composição uma parceria de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, era desacreditada pelos donos da gravadora
Quando olhei a terra ardendo, quão fogueira de São João. Eu perguntei a Deus do céu, uai! Por que tamanha judiação. “É a música representativa do povo brasileiro, da luta do povo brasileiro, desse grande compositor, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. Asa Branca é a música mais importante do repertório dele. Claro que ele tem outras, mas Asa Branca é a grande bandeira da Música Popular Brasileira. Merece ser considerada o hino da Música Popular Brasileira”.
Em 1947, a composição “Asa Branca”, uma parceria de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga, era desacreditada pelos donos da gravadora RCA Victor. A canção triste que retrata o ciclo as migrações do homem sertanejo precisou de uma... digamos, forcinha para que fosse aceita pela gravadora. “E ai Luiz Gonzaga disse: ‘se não gravar essa música aqui. Eu saio da RCA Victor’. E aí os Victors começaram: ‘não, manda ele gravar...’ E aí quando gravaram a música a deu esse estouro que foi”.
As duas afirmações que ouvimos é de José Mário Austragésilo, professor, comunicador social, escritor e ator. Também autor do livro “Luiz Gonzaga: o homem, sua terra e sua luta”. José Mário afirma que um dos pontos marcantes na carreira de Luiz Gonzaga foi a valorização da identidade da cultural local. Com esta marca, o Rei do Baião ganhou o mundo.
O rural nordestino não é mais o mesmo de setenta anos atrás. Por exemplo, o percentual de migrações diminuiu. Ao mesmo tempo, a música segue imortalizada. Firme nas identidades sertanejas, ultrapassando fronteiras de territórios, estéticas e gerações.
Val dos Santos é uma trabalhadora que mora no Recife. Ao ouvir e cantar Asa Branca regasta as histórias de antepassados. “Eu sinto saudade do que eu não conheci. Lembrança de um passado que eu não conheci. Tristeza também por muitas coisas que a gente sabe, que não existe mais. E o que está se acabando por aí. O sertão é como se não existisse para o mundo aí fora. Os políticos não valorizam o nosso sertão”.
Próximo ao local de nascimento de Luiz Gonzaga, no município de Triunfo, no sertão do Pajeú pernambucano, o jovem Erisson Martins, além de estudar agronomia, toca violão e canta um repertório musical variado. “Não é apenas uma simples música, com uma simples letra, com uma melodia. É uma belíssima poesia popular, que ficou muito bem encaixada dentro de uma estrutura melódica, muito bem feita pelo nosso Rei do Baião. É uma letra que retrata muito a vida do sertanejo, a vida das pessoas que moram no campo. A vida das pessoas que viveram aquela época na qual a música foi escrita”.
Décadas atrás, Manoel Mourão também deixou a região nordeste rumo ao Sudeste e Sul. A situação foi diferente. Manoel Mourão é alagoano e ex-jogador de futebol. Nos gramados ficou conhecido ao assumir a lateral-esquerda como Mourão. Ele fala sobre o sentimento de ouvir Asa Branca ao longo dos anos, em diferentes localidades. “Asa Branca é o hino do sertanejo. Sinceramente. Se canta em todo canto. É imortal. Ninguém jamais esqueceu. É espetacular. Principalmente naquele vozeirão de Luiz Gonzaga e de outros e outras da época”.
Pois é, seu Mourão! E coloque vozes que cataram Asa Branca… além do próprio filho, Gonzaguinha, podemos listar alguns vários nomes da música que gravaram Asa Branca: Nelson Gonçalves, Maria Betânia, Zé Ramalho, Tom Zé, Lulu Santos, Fagner, Caetano Veloso, Raul Seixas, Quinteto Violado… e muitos outros do Brasil ou do exterior.
Edição: Anelize Moreira