Única responsável pelo sustento de sua família, a professora Rosineide Freitas faz um verdadeiro malabarismo para fechar as contas todos os meses. Cheque especial, empréstimos com familiares e parcelamentos de dívidas são algumas táticas para tentar contornar a situação de crise econômica que atravessa o estado do Rio de Janeiro. A realidade da professora Rosineide não é muito diferente da vivida pelos 2.800 docentes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) que também estão sem receber salários em dia desde o ano passado. Até hoje parte dos servidores não receberam o salário de março.
"Nosso plano de saúde foi cortado, nossas contas estão com muitos juros e isso vai gerando mais dívida porque o salário atrasado depois não vem com juros", conta a professora, que atua no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. Para ela, o mais difícil é ver a filha adolescente, de 16 anos, que teve sua rotina alterada. “Ela teve sair dos cursos que fazia fora da escola e já não pode mais fazer as mesmas coisas de antes”.
Para denunciar essa situação, os docentes da Uerj realizaram, durante toda a última semana, um acampamento em frente ao Palácio Guanabara, sede do governo do estado do Rio de Janeiro. Estiveram em pauta os principais problemas enfrentados pela universidade e os atrasos nos salários dos professores e técnicos. “A gente precisa denunciar e também dialogar com a sociedade. Sabemos que a crise tem nome e partido político. Os trabalhadores não podem pagar pelos erros do governador e do PMDB. Queremos Luiz Fernando Pezão fora do governo”, afirma Rosineide Freitas.
Além dos salários, os repasses para bolsas, laboratórios e o restaurante universitário da UERJ, conhecido como bandejão, não são feitos desde dezembro de 2016, de acordo com presidenta da Associação dos Docentes da UERJ (Asduerj), Lia de Mattos Rocha.
“Uma parte dos professores não receberam o salários de março. Já passamos da metade do mês de maio e os salários de abril não foram pagos a nenhum servidor da UERJ. Queremos um posicionamento do governador Pezão. Sabemos que essa é uma crise de escolha, porque os salários do judiciário, da Assembleia Legislativa e do executivo não atrasam”, destaca a professora Lia de Mattos Rocha.
Alunos da UERJ também foram ao acampamento dos professores para prestar seu apoio e solidariedade. “Estamos em uma situação difícil, temos 30% de evasão dos alunos, pois as bolsas estão atrasadas há dois meses e temos muito estudantes cotistas e bolsistas, nosso bilhete único também foi cortado, estamos sem bandejão. Isso prejudica muito a permanência dos estudantes na universidade”, explica o aluno de Ciências Sociais, Ian Ribeiro.
Atualmente a UERJ conta com 35 mil alunos e 6 mil técnicos. Segundo o Ranking global de universidades, o Best Global Universities 2016, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro é a 7ª melhor universidade do Brasil e a 12ª da América Latina.
“Estamos falando de uma das melhores universidades Brasil, que está completamente sucateada e isso ameaça inclusive o direito desses milhares de jovens à educação, inclusive muitos deles cotistas e de baixa renda”, aponta Lia Rocha.
Desde o ano passado a UERJ enfrenta dificuldade com a falta de repasse. Em 2016, foram pagos apenas um terço do orçamento da universidade, segundo informações da Asduerj. A Associação de Professores informou ainda que este ano os repasses foram ainda menores, entretanto, nem o governo do estado, nem a reitoria precisaram o percentual dos recursos pagos até agora.
O Brasil de Fato entrou em contato com assessoria de imprensa do governador Pezão. Em nota, o governo respondeu que um grupo de professores foi recebido na tarde da quarta-feira (17) pelo chefe de gabinete da Secretaria de Governo, Murilo Leal. “As pendências pontuais nos pagamentos referentes ao mês de março, que estavam programados para ocorrer até o dia 16 de maio, encontram-se regularizadas”, informou assessoria do governador.
Os professores acampados negam que o pagamento tenha sido feito. “Até o final do dia esse pagamento não tinha sido regularizado. Além disso, o acampamento não foi motivado apenas pelo atraso do pagamento de março, mas por toda a crise que UERJ vem enfrentando, incluindo sim os salários atrasados, mas também a falta de repasses dos recursos previstos no orçamento, as bolsas, o bandejão que está fechado, entre outras coisas”, rebateu a presidente da Asduerj, Lia Rocha.
Edição: Vivian Virissimo