A mudança inesperada da Globo diante do governo Temer ainda gera dúvidas. Por que, de uma hora para outra, a empresa líder do movimento golpista no Brasil e apoiadora fiel do governo ilegítimo passou a atacá-lo ferozmente?
Não é muito difícil achar a resposta. Basta dar uma olhada na história das Organizações Globo. A linha editorial dos seus jornais, rádios, televisões e portais da internet é a linha do controle do poder.
Na verdade, ela, junto com outros grandes meios de comunicação, formam há muito tempo um verdadeiro partido político. Hoje, aliado a setores do Judiciário.
No episódio Temer, o que ocorreu foi o seguinte: a Globo percebeu que, com ele no poder, as reformas trabalhista, previdenciária e política, por ela defendidas ardorosamente, corriam risco. Um governo como esse, com baixíssima popularidade, teria muita dificuldade de implementá-las, ainda mais depois do sucesso da greve geral do dia 28 de abril.
O vazamento da conversa entre o presidente da República e o dono da JBS veio a calhar para a Globo. Serviu de justificativa para que ela virasse de lado e passasse a apostar em uma rápida substituição do governo Temer por outro eleito indiretamente pelo Congresso e capaz de seguir em frente com as reformas anti-trabalhistas e antipopulares defendidas das empresa.
Repete-se, dessa forma, o que ocorreu no episódio da eleição e da renúncia de Collor. A Globo criou um candidato na figura do caçador de marajás alagoano, o elegeu e depois de algum tempo resolveu destituí-lo apoiando movimentos como os dos famosos caras-pintadas. Agora faz exatamente o mesmo. Encabeçou o golpe contra Dilma colocando Temer na presidência para, neste momento, pedir a sua cabeça.
Como se vê, não há nenhuma novidade nisso tudo. Trata-se apenas de mais um capítulo da longa história das Organizações Globo, sempre contra os avanços das causas populares e da soberania nacional.
*Professor aposentado da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP)
Edição: Brasil de Fato