Congresso

“Minha tendência é preparar o PT pra voltar a governar o país”, diz Lula

Dilma e outras lideranças engrossam o coro da campanha por eleições diretas para presidente

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Lula discursou durante congresso do PT, em Brasília; evento marca escolha de nova diretoria partidária
Lula discursou durante congresso do PT, em Brasília; evento marca escolha de nova diretoria partidária - Lula Marques/Agência PT

O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva disse que o Partido dos Trabalhadores (PT) precisa retornar às bases da esquerda para concorrer novamente à Presidência da República. Sem fazer menção direta a uma candidatura própria, como vem sendo especulado, Lula pediu que as lideranças do partido pensem políticas voltadas aos segmentos populares, em especial mulheres, sem-terra, negros, quilombolas e LGBTs. “O PT tem que ter orgulho de falar com essa gente”, completou, em referência à história da sigla.   

A declaração foi feita durante a abertura do 6º Congresso Nacional do PT, que ocorre até o próximo sábado (3), em Brasília. O evento marca, entre outras coisas, a eleição da nova direção do partido, reunindo parlamentares, gestores, lideranças e militantes em geral.

De olho no pleito de 2018, Lula pediu ainda que os próximos dirigentes partidários elaborem um discurso “exequível” para o país. “Eles [os adversários] estão com medo; nós, não. Se a esquerda for pra disputa com um programa factível, a gente vai voltar a governar este país”, completou o ex-presidente, que vem sendo apontado como possível presidenciável, mas evitou falar no assunto.

A campanha, desta vez, ficou a cargo da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), também figura de destaque na abertura do evento. Com um discurso mais voltado pra fora do partido, a petista aproveitou a oportunidade para criticar as reformas trabalhista e da Previdência e para engrossar o coro por eleições diretas para presidente.

“É a única saída possível e viável para o país. Não porque nós tenhamos o melhor candidato, porque perder eleição não é vergonha. Vergonha é tentar ganhar no tapetão, sem voto. Vergonha é tentar eleger o candidato biônico. Nós precisamos da legitimidade que só o voto popular dá. É ‘Diretas Já’ por uma questão de sobrevivência do país”, disse Dilma.

Ela também defendeu a realização de uma Constituinte exclusiva para tratar da reforma do sistema político e reforçou o nome do ex-presidente como possível concorrente à chefia do Executivo. “Meu candidato é Lula para presidente”, finalizou.

Campanha

Com o agravamento da crise em torno da figura de Michel Temer (PMDB), a campanha por eleições diretas vem ganhando fôlego entre diversos segmentos partidários e populares. O tema se sobressaiu durante a abertura do congresso do PT, que contou com representantes de várias entidades.  

Estiveram presentes lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da União Nacional dos Estudantes (UNE), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), entre outros, que bradaram em uníssono por novas eleições.

“Num momento como este, precisamos de unidade, mas também de amplitude. Muitas pessoas que defenderam o impeachment hoje pedem eleições diretas”, destacou a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, encampando o discurso de união da esquerda com setores mais conservadores, em prol de um novo pleito popular.

O líder da bancada do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), foi um pouco mais além, chegando a defender eleições gerais, para que o eleitorado possa escolher também novos parlamentares. “Vamos atender aquilo que o povo quer, que é a redemocratização do sistema político brasileiro”, bradou.  

O dirigente do MST Alexandre Conceição fez um apelo para que os parlamentares do PT não costurem pactos com membros da base aliada do governo no sentido de promover uma eleição indireta. “Não façam acordo com a burguesia. (...) O Brasil só terá jeito quando retomar a democracia e a gente puder votar pra presidente”, defendeu Conceição, que falou em nome da Frente Brasil Popular (FBP).

A declaração do dirigente é uma referência ao contexto político do Congresso diante da possibilidade de cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deve julgar o caso no próximo dia 6.

Com o aumento das especulações sobre uma possível derrota de Temer, cresceram nos bastidores do Legislativo as articulações em torno de um acordo para escolher indiretamente um novo nome para a Presidência, em caso de vacância do cargo. A costura estaria envolvendo até mesmo nomes do PT, a despeito do discurso oficial empreendido pelas lideranças da sigla.

Durante a abertura do congresso, a líder da bancada do partido no Senado, Gleisi Hoffmann (PR), rechaçou a possibilidade. “Não é possível fazer acordo com quem rasgou o pacto da Constituição Federal de 1988 e cassou uma presidenta legitimamente eleita”, garantiu a petista.   

Edição: Camila Rodrigues da Silva