Altamira, no Pará, é a cidade mais violenta do país, segundo o estudo Atlas da Violência 2017, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), apresentando na última segunda-feira (5). A pesquisa analisou as taxas de homicídios entre 2005 e 2015. Para moradores da cidade, ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato, a construção da Usina de Belo Monte deve ser considerada como fator fundamental para entender o aumento da violência na região.
De acordo com o estudo, o Pará é o estado que figura como o quinto mais violento. O mesmo levantamento apontou também que, de cada 10 pessoas assassinadas no Brasil, 7 são negras.
Segundo o relatório, a pesquisa analisou dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e também dados dos registros policiais publicadas no 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do FBSP.
Para o resultado publicado no Atlas da Violência 2017, o Ipea e o FBSP fizeram a soma das taxas de homicídio e de Mortes Violentas com Causa Indeterminada (MVCI), sendo consideradas apenas as cidades que possuem 100 mil habitantes. Um dos dados revelados é que apenas 2% dos municípios (111 cidades) foram responsáveis, em 2015, por metade dos casos dos homicídios no país.
Altamira apresentou taxa de homicídios de 107 por 100 mil habitantes, em seguida, aparece na lista Lauro de Freitas, na Bahia, com 97,7 e Nossa Senhora do Socorro, em Sergipe, com 96,4. No estudo, foi verificado que os estados com aumento da taxa de homicídios no período estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste.
Belo Monte
Maria Euda de Andrade, de 54 anos, mora em Altamira, no bairro Jardim Independente 1, conta que a violência afeta sua rotina e que, mesmo pela manhã, sai assustada de casa para ir ao trabalho e toma algumas medidas de segurança, como não andar sozinha à noite.
Ela acredita que uma das causas do aumento da violência na cidade se deve à instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte: “Foi aí que piorou tudo, depois da usina, veio tudo de ruim praticamente veio para cá. Foi quando começou a aparecer mais, apesar que já tinha, mas depois disso dobrou”.
Jackson Dias mora na cidade há 25 anos e milita no Movimento Atingidos por Barragens (MAB). Ele também avalia que a instalação da usina deve ser considerada como um fator social que contribuiu para o aumento da violência na cidade e aponta que uma das causas se deve ao aumento do contingente populacional, provocado pelo empreendimento na região.
“Diariamente, cerca de 200 a 300 trabalhadores eram admitidos e demitidos, então era um fluxo muito grande de gente chegando na cidade, um fluxo muito grande de gente ficando desempregada dentro da cidade. Isso é um dos fatores que aumentou a violência no município. Tanto que a população de Altamira praticamente dobrou nesses últimos cinco anos de construção. (...) O maior legado de Belo Monte é a violência e a criminalidade”, argumenta.
A percepção é comprovada pelo dossiê Belo Monte, publicado pelo Instituto Socioambiental (ISA), em 2015. O estudo informa que a empresa Norte Energia e o governo do estado do Pará firmaram, em 2011, um termo de cooperação para viabilizar ações para o fortalecimento do órgão de segurança. Segundo o documento, havia a previsão de que entre 2011 e 2015, o estado receberia “mais de R$ 115 milhões, destinados a compras de equipamentos e reforma de prédio”. O relatório apresenta que, até 2014, mais de 70% do valor foi destinado para o Plano de Segurança Pública no Entorno de Belo Monte. Contudo, os indicadores de violência no município continuavam alarmantes:
“Altamira registra indicadores de violência elevados. Os casos de homicídios, acidentes de trânsito, violência contra mulheres e adolescentes, furtos e roubos praticamente duplicaram desde o início da construção da usina. Entre 2011 e 2014, o número de assassinatos por ano em Altamira saltou de 48 para 86 casos, um aumento de quase 80%”, diz o relatório.
Outro lado
A reportagem entrou em contato, por e-mail e por telefone, com a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Pará (Segup) para saber sobre a posição do órgão sobre o estudo publicado pelo Ipea, mas não obteve retorno.
À empresa Norte Energia foi encaminhado um e-mail para a assessoria e, por telefone ,conversamos com o assessor de comunicação. Devido ao horário do envio da solicitação da demanda, foi informado que o expediente já havia sido encerrado. O assessor, no entanto, informou que encaminharia a demanda para a área responsável e que, provavelmente, na segunda-feira seria dado um retorno.
Edição: Vanessa Martina Silva | Mauro Ramos