Saúde

Maior hospital universitário do país sofre cortes e pode fechar

Hospital São Paulo atende 5 milhões de pacientes e é espaço de formação de médicos e residentes

Especial para o Saúde Popular | São Paulo (SP) |
Estudantes e professores fazem ato para denunciar situação do Hospital São Paulo que atende mais de 5 milhões de pessoas
Estudantes e professores fazem ato para denunciar situação do Hospital São Paulo que atende mais de 5 milhões de pessoas - Norma Odara/ Saúde Popular

“Estamos passando por um descompasso orçamentário grave que está afetando a questão assistencial e o ensino também, porque nós somos um hospital universitário, temos obrigações nos cursos de graduação, residência médica e multiprofissional”, comenta José Roberto Ferraro, Diretor Superintendente do Hospital São Paulo sobre os cortes expressivos que o governo federal realizou na verba repassada ao Hospital São Paulo (HSP/HU/Unifesp).

Destacado como o maior hospital universitário da rede federal, o HSP atende 5 milhões de pacientes da grande São Paulo e de outras cidades. Além disso, também é responsável pela formação de 1.164 alunos da graduação, 2632 alunos da pós-graduação, 1107 médicos residentes e 575 residentes multiprofissionais.

Os números grandiosos que envolvem o hospital já começaram a mudar. Isso porque a unidade de saúde e de ensino sofreu uma grave crise orçamentária não só porque o governo federal cortou verbas, mas também porque encerrou o Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF), que nos últimos três anos havia repassado R$ 55 milhões.

“São dois problemas que nós temos: a gente tem um contrato com o SUS que já não contempla tudo que o hospital atende”, conta o estudante do sexto ano de medicina, Arthur Violante Sapia.

Segundo ele, o HSP tem déficit mensal de R$1,5 milhão no orçamento recebido.  “A gente não consegue chegar no fim do dia e falar ‘já estourou o limite, parem de chegar’. Não tem como”.

Crise no atendimento

Os cortes no orçamento do hospital são generalizados e se refletem até na falta de materiais mais básicos, afetando pacientes e estudantes que acompanham a crise diariamente. A administração do hospital decidiu reduzir o atendimento somente para urgências, desmarcando até cirurgias que já estavam agendadas.

“A situação está muito crítica, porque estão faltando materiais como gaze, algodão e por isso até que eles fecharam o pronto-socorro e só estão atendendo casos de extrema urgência. Tem casos em que a família é obrigada a comprar a medicação e trazer, além do remédio, a roupa de cama para colocar no leito “, relata a estudante de enfermagem Bruna Soave.

A operadora de telemarketing, Erica Fernanda dos Santos conta que sua filha mais velha não pôde ser atendida, pois seu caso não foi considerado “grave”: “Eu vim aqui no dia 11 de maio, com a minha filha de 17 anos e não prestaram atendimento. Mandaram eu ir procurar o ambulatório mais próximo. É chato, porque ela chegou num estado muito ruim, com muita falta de ar, chorando e não foi prestado atendimento. A gente fica com as mãos amarradas”, relata Erica.

Os professores e administradores temem que o quadro se agrave ainda mais. “Infelizmente os governantes estão dizendo: vocês se adaptam ao orçamento que têm. Adaptar-se ao orçamento que tem é diminuir”, afirma Ferraro ao fazer referência à resposta do Ministério da Saúde, para quem o HSP já recebe verba suficiente para o atendimento

Manifestação

Estudantes dos cursos de medicina, enfermagem, fonoaudiologia e outros cursos ligados à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e ao Hospital São Paulo (HSP/HU/Unifesp) promoveram uma manifestação na última quinta-feira (8).

Cerca de 400 estudantes distribuíram panfletos à população e caminharam cantando “Ô presidente, presta atenção, a gente quer é saúde e educação” até a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na tentativa de conversar com deputados estaduais e entregar um documento relatando a situação de abandono e desmonte do HSP.

Na chegada à Alesp os estudantes foram revistados pela Polícia Militar, que impediu que eles entrassem com instrumentos musicais e faixas, que foram guardadas no gabinete do deputado estadual Carlos Neder (PT), que compõe a Comissão de Saúde da casa.

“Assumi o compromisso de levar o documento para apreciação das Comissões de Saúde,  de Ciência e Tecnologia e de Educação. Além disso, vamos solicitar para os líderes dos partidos ajudarem na construção de uma reunião conjunta entre os servidores do HSP, o presidente Michel Temer, os ministros da Saúde [Ricardo Barros], da Educação, e de Ciência Tecnologia e o governador do estado [Geraldo Alckmin] e secretários envolvidos com a pauta”, afirma Neder.

Edição: Juliana Gonçalves