Movimentos de mulheres e organizações feministas realizaram um ato-show, no Largo do Arouche, em São Paulo (SP), neste domingo (11), para exigir a saída do presidente Michel Temer (PMDB-SP) e a realização de eleições diretas. O ato, convocado por artistas, intelectuais e atletas conta com a participação das cantoras Maria Gadú, Tulipa Ruiz, Ana Cañas, Lurdez da Luz, entre outras.
"A gente não quer só que o Temer caia. A gente quer que ele caia pelas nossas mãos. E a gente quer mais que eleições diretas, a gente quer barrar as reformas", diz Camila Kfouri, uma das articuladoras do protesto, em entrevista à RBA.
Além da mudança do atual governo e a realização de novas eleições, a manifestação intitulada Mulheres Pelas Diretas e Por Direitos também marca posição contra a retirada de direitos dos trabalhadores, representada pelas propostas de reformas trabalhista e da Previdência, que as prejudicarão ainda mais.
Elas também reivindicam o combate a todas as formas de violência contra a mulher e lutam pela derrubada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 29/2015, que proíbe o aborto mesmo em casos de risco à vida da gestante, gravidez gerada por estupro ou fetos com anencefalia, hoje considerados legais.
"Sai daí, Temer golpista! Eu quero mais do que as diretas, eu quero direitos. Aqui tem guerreira, o Brasil não é feira", exclamou a MC Bárbara Bivolt. Já a rapper feminista Luana Hansen ressaltou a luta por direitos. "Nenhum direitos a menos. Enquanto a Justiça estiver fazendo isso, a gente vai lugar pelos nossos direitos."
Sonia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), ressaltou que o golpe parlamentar que colocou Temer no poder é "misógino" e aprofunda a retirada de direitos, principalmente das mulheres. Ela diz que o pleito por mais direitos está vinculado a uma plataforma popular e feminista. "Enquanto a gente está lutando contra as reformas, eles tentam retirar o direito das mulheres ao aborto legal."
Miriam Hermógenes, da Central de Movimentos Populares (CMP), convocou as mulheres a participarem da greve geral marcada para o próximo dia 30, contra as reformas e pela saída de Michel Temer. "A greve não é dos sindicatos, é dos trabalhadores e trabalhadoras. Se não pararem essas reformas, se o Temer não cair, o Brasil vai parar."
A MC Brisa Flow lembrou que as vozes no ato-show são das mulheres, mas o diálogo é com todos. "O problema da violência contra a mulher é um problema de todos. Não é um evento exclusivo das mulheres. Eles tentam invisibilizar a gente dentro da política, dentro das artes, na vida, em geral e na sociedade. Enquanto a gente não estiver nem no poder e nem na política, não vai ter direitos para nós. Por isso, a gente está aqui pelas diretas e por direitos."
Já as "manas" do Slam das Minas e Trans-sarau pediram diretas e direitos, com poesia, contra o machismo e a transfobia, por "liberdade, luta e gozo", pelo direito de "existir e ocupar", com sequência de poesias declamadas que, além da mulher, abordam a pobreza e a vida na periferia, com suas dificuldades, desafios e preconceitos.
"Somos contra essas reformas absurdas desse governo golpista e machista. A onda agora é ir para as ruas e resistir", diz a cantora e compositora paraense Aíla, que também sobe ao palco no Largo do Arouche.
"Temer não será deposto pela Rede Globo, será deposto por nós, nas ruas". A ex-ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Eleonora Menicucci, afirmou que há risco de consolidação de um "fascismo social", que ataca os direitos das mulheres e lembrou como exemplo sua disputa judicial com o ator Alexandre Frota, condenada a pagar R$ 10 mil reais por afirmar que o ator estimula a cultura do estupro.
"Não é só contra mim, é contra todas as mulheres. Nenhuma mulher a menos. Pela descriminalização e legalização do aborto. Tudo isso só será conquistado com eleições diretas. Não existe democracia sem o voto soberano. Nós queremos votar. Com esse Congresso que está aí, não conseguiremos nada", afirmou Eleonora.
Já a vereadora Juliana Cardoso (PT-SP) afirmou que o ato serve para mostrar que "as mulheres podem, sim." Aquele Congresso tirou uma mulher eleita, querendo dar um recado para nós mulheres. Mas eles se enganam. Eles não sabem que nós, mulheres, temos a força para avançar." Ela também destacou que as reformas da Previdência e trabalhista as afetam ainda mais. "Tudo isso vai bater diretamente nas mulheres."
Edição: RBA