A mobilização contra a permanência do golpista Michel Temer na Presidência da República, mesmo após as graves delações dos donos da JBS, ganhou contornos de uma grande campanha nacional. Nessa semana, foi anunciada a criação de uma Frente Ampla em defesa de eleições diretas, que já conta com a participação de cerca de 60 entidades da sociedade civil, incluindo movimentos populares, partidos, centrais sindicais, artistas, intelectuais, segmento religioso, entre outros.
Essa articulação ainda conta com a participação direta das duas frentes de massas mais importantes do país hoje: a Frente Brasil Popular (FBP) e a Frente Povo Sem Medo (FPSM). Juntas, elas reúnem os principais movimentos sociais do país.
“É uma evidência que as lutas sociais vêm numa grande ascensão no Brasil, marcada esse ano por uma greve geral, que foi muito unitária, e os atos que seguiram desde então. Nós estamos chegando a um novo patamar, transformando isso tudo em um movimento político para disputar os rumos de saída da crise brasileira”, afirma Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB e integrante da FBP.
Como em 1984, ano que marcou o auge da luta pela redemocratização do país com a campanha das Diretas Já – que pedia a convocação de eleições diretas para presidente da República –, o movimento em 2017 é uma reação à grave crise de legitimidade do sistema político vigente, especialmente em relação à ocupação do cargo de presidente por Michel Temer, acusado de receber propina da JBS e investigado pelo STF por corrupção passiva e organização criminosa.
“A experiência nos mostra que, para enfrentar esse quadro que aí está, só mesmo uma frente muito ampla, como foi as Diretas Já na luta contra a ditadura. Não pode ser uma coisa maniqueísta entre direita e esquerda. Precisamos buscar os segmentos mais amplos da sociedade”, afirma Roberto Amaral, cientista político, escritor e integrante da comissão política da Frente Brasil Popular.
“Eleições diretas curam crises de legitimidade. A nossa única saída é Diretas Já para garantir ao povo o direito de decidir seu futuro”, afirma Carina Vitral, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
A retomada da soberania popular é o ponto de partida fundamental, diz o manifesto da Frente Ampla por Diretas Já: “A manutenção de Temer ou sua substituição sem o voto popular significa a continuidade da crise e dos ataques aos direitos, hoje materializados na tentativa de acabar com a aposentadoria e os direitos trabalhistas, as políticas publicas, além de outras medidas que atentam contra a soberania nacional”.
Nas ruas
A Frente Ampla por Diretas Já se soma à luta dos artistas, que têm organizado atos-shows em diversas capitais, com apresentações musicais de grandes nomes da cultura nacional – só no Rio de Janeiro e em São Paulo foram mais de 250 mil pessoas – e as articulações no Congresso Nacional, após o lançamento da Frente Parlamentar Suprapartidária por Eleições Diretas, que reúne deputados e senadores de cinco partidos e até lideranças políticas que fazem parte da base parlamentar de Michel Temer.
No Congresso, a pressão é pela aprovação de uma emenda constitucional que permitiria a realização de eleições diretas em caso de vacância do cargo de presidente até um ano antes do fim do mandato.
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O calendário de mobilizações prevê atos-shows em Salvador, Recife e Porto Alegre, no próximo dia 11. Em Belo Horizonte, a mobilização será no dia 16, durante o congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE).
No dia 30 de junho, está prevista a segunda greve geral convocada por todas as centrais sindicais, que espera ser ainda maior que a paralisação do dia 28 de abril, que atingiu mais de 35 milhões de trabalhadores em todo o país.
Por direitos
Um dos objetivos da Frente Ampla é esclarecer e mobilizar o conjunto da população que está sendo afetada pela retirada de direitos em curso desde a chegada de Temer ao poder.
“Tem havido uma série de alterações constitucionais e na legislação que vulnerabilizam os direitos de trabalhadores, como a emenda constitucional que limita os gastos com saúde e educação, a questão da Previdência e a reforma trabalhista”, afirma a pastora Romi Márcia Bencke, secretária-geral da Coordenação Nacional das Igrejas Cristãs (Conic), articulação que reúne a maior parte das organizações do movimento ecumênico no país.
A pastora Romi Bencke afirma que vai aproveitar a capilaridade do movimento ecumênico, presente nas igrejas de todo o país, para informar o povo sobre os graves retrocessos em curso. “É claro que as pessoas mais pobres serão duramente afetadas. Por que as reformas estão sendo levadas adiante sem um debate profundo com a sociedade brasileira?”, questiona.
“Nós devemos mobilizar essa maioria silenciosa no país. As pesquisas demonstram uma grande insatisfação popular, mas ainda não se expressaram politicamente com todo o seu potencial. Essa Frente Ampla pode ajudar a estimular as massas a se manifestarem, trazendo setores que dialogam diretamente com essas maiorias sociais, como o segmento religioso”, aponta Sorrentino.
Edição: Camila Rodrigues da Silva