Jornalismo

"A EBC está sitiada", diz coordenador geral do Sindicato dos Jornalistas do DF

Entidade lançou nota em repúdio às mudanças recentes na empresa e classificou atos como "práticas de censura"

Brasil de Fato| São Paulo (SP) |

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Entre outras mudanças, protestos contra Michel Temer (PMDB) teriam sido vetados nos veículos da EBC
Entre outras mudanças, protestos contra Michel Temer (PMDB) teriam sido vetados nos veículos da EBC - Agência Brasil

"A EBC está sitiada", diz Gésio Passos, coordenador do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal (DF). Desde de agosto de 2016, quando o presidente golpista, Michel Temer (PMDB), assumiu a presidência por meio de um golpe parlamentar, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) passa por diversas mudanças estruturais, que vêm sendo denunciadas publicamente por meio do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) que, nesta quarta-feira (14), lançou uma nota repudiando as mudanças que se caracterizam, de acordo com o organismo, como "práticas de censura".

De demissões à inviabilização da cobertura de atos contra o governo, passando pela censura de termos como "fora, Temer", são inúmeras as críticas feitas à atual gestão da empresa, nas mãos de Laerte Rímoli, presidente da EBC desde que Ricardo Melo foi afastado.

Jornalistas que há anos trabalham com temas como educação e política foram escalados para cobrir outras áreas. "Chama a atenção do sindicato a perseguição a repórteres setoristas há mais de quatro anos em uma mesma área, com reconhecimento nacional, que estão sendo deslocados, de forma arbitrária, sem treinamento, para outras áreas de cobertura que não guardam relação com suas trajetórias profissionais e formativas", traz o texto da nota.

Luciano Nascimento, repórter da Agência Brasil, foi um dos que tiveram suas funções modificadas. "Houve uma mudança de setoriais de forma abrupta e sem conversa com os profissionais", conta ao afirmar que os trabalhadores sentem cada vez mais a ingerência do governo na empresa refletidas nas trocas de chefias, no controle sobre o que é publicado e no constrangimento junto aos jornalistas da Redação.

Formalmente, segundo Nascimento, a EBC diz que as mudanças são apenas uma forma de "arejar" as coberturas, porém, o profissional avalia de outra forma:  "As pessoas estão descontentes e se sentidos prejudicadas, avaliamos que as mudanças têm caráter político", ressalta.

A reportagem procurou a diretoria da EBC, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Fim do conselho curador

Em fevereiro deste ano, o senado aprovou uma medida que modifica a estrutura da EBC e acaba com o Conselho Curador da Empresa. 

Para Passos, esse foi o principal ataque sofrido e que, inclusive, acaba com o caráter público da empresa. "Com o fim do conselho curador, não há nenhum outro espaço de controle público sobre a empresa, o que a torna ainda mais refém de interesses que não são autônomos do governo e do mercado", critica. Hoje, a EBC conta apenas com uma Ouvidoria. 

Leia nota do sindicato na íntegra:

Nota em repúdio a mudanças na EBC, que caracterizam práticas de censura

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) vem a público repudiar mudanças em curso na Empresa Brasil de Comunicação, que visam tolher o livre exercício da profissão, bem como aprofundar as práticas de censura.  

Nas últimas semanas, jornalistas da EBC foram realocados de áreas de cobertura sem consulta prévia, critérios transparentes e após episódios de reclamações de integrantes do governo com coberturas realizadas em áreas como política e educação. Chama a atenção do sindicato a perseguição a repórteres setoristas há mais de quatro anos em uma mesma área, com reconhecimento nacional, que estão sendo deslocados de forma arbitrária, sem treinamento, para outras áreas de cobertura que não guardam relação com suas trajetórias profissionais e formativas. 

O esvaziamento da cobertura da agenda social, que já vinha sendo realizada com alterações na pauta e em cargos de gestão, revela a disposição da EBC e do governo para calar a diversidade de vozes da sociedade brasileira por meio do assédio moral e perseguição. 

O SJPDF não será conivente com essas práticas e irá tomar as medidas judiciais cabíveis para garantir o livre e digno exercício profissional dos jornalistas que trabalham na EBC.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF Coletivo de Mulheres Jornalistas do SJPDF

Edição: Vanessa Martina Silva