Resposta a Trump

"Cuba não negociará princípios ou aceitará condicionamentos", diz chanceler de Havana

Bruno Rodríguez Parrilla condenou "retorno à política falida" promovido pelo presidente dos Estados Unidos

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O chanceler cubano, Bruno Rodríguez Parrilla, durante conferência de imprensa em Viena, Áustria (19)
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez Parrilla, durante conferência de imprensa em Viena, Áustria (19) - Consejo de Estado

O ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, afirmou nesta segunda-feira (19) que Havana segue aberta ao diálogo com Washington, mas que “não negociará seus princípios nem aceitará condicionamentos”, em referência à anulação parcial por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, às políticas de reaproximação entre os dois países na última sexta-feira (16).

Em Viena, na Áustria, onde se encontra em visita para avançar as relações bilaterais entre Cuba e o país europeu, Parrilla disse que a política do governo Trump em relação a Havana recrudesce o bloqueio imposto há quase seis décadas, constituindo “um retrocesso nas relações entre os dois países e um retorno à mesma política falida aplicada por administrações norte-americanas anteriores”.

“Não será um decreto presidencial norte-americano que irá desviar o rumo soberano de Cuba”, disse o chanceler. “Cuba não realizará concessões inerentes a sua soberania e independência, não negociará seus princípios nem aceitará condicionamentos, como nunca o fez ao longo da história da Revolução”, prosseguiu.

Ao mesmo tempo, o ministro reiterou a vontade de Havana de “dar continuidade ao diálogo respeitoso e à cooperação em temas de interesse mútuo sobre a base da igualdade, da reciprocidade e do absoluto respeito à independência e à soberania de Cuba”.
Parrilla também classificou como “espetáculo grotesco, saído da linguagem da Guerra Fria” o pronunciamento de Trump em Miami na sexta-feira, quando anunciou a revisão de seu governo para as medidas de reaproximação implementadas nos últimos dois anos pelo ex-presidente Barack Obama após o restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, anunciado em dezembro de 2014.

Na ocasião, Trump anunciou mudanças que incluem a proibição das viagens individuais para fazer contatos com o povo cubano, conhecidas em inglês como “people to people travel”, e a possibilidade de auditoria a todos os americanos que visitem Cuba para comprovar que não violam as sanções dos EUA. O líder norte-americano exige do governo cubano “avanços concretos” rumo a objetivos como “eleições livres”, liberdade de “presos políticos” e a entrega à Justiça dos EUA de “criminosos e fugitivos” que encontraram refúgio na ilha. 

Segundo o chanceler, o presidente dos EUA “saudou por nome e se rodeou por vários terroristas e mercenários com um longo histórico de agressões contra Cuba”, inclusive assassinos de revolucionários e de cubanos opositores à ditadura de Fulgêncio Batista.

Parrilla disse que as novas medidas endurecem o bloqueio “injusto, inumano, genocida e violador do Direito Internacional e dos direitos humanos dos cubanos” e criticou “a manipulação política e a falta de autoridade moral do presidente norte-americano para dar lições sobre direitos humanos e democracia”.

“As medidas anunciadas pelo presidente Trump ignoram o rechaço majoritário, dentro e fora dos EUA, desta política hostil em relação a Cuba e não cumprirão os objetivos que se proclamam, somente afetarão os próprios norte-americanos e o povo cubano”, disse o ministro.

As declarações de Parrilla em Viena hoje ecoam o comunicado divulgado pelo governo cubano na sexta-feira, após o pronunciamento de Trump em Miami. Em nota, Havana afirmou que as novas medidas do presidente norte-americano “não conseguirão o seu propósito de debilitar a Revolução nem submeter o povo cubano, cuja resistência perante agressões de tipo e origem qualquer tem sido evidenciada ao longo de quase seis décadas”.

“O Governo de Cuba rejeita a manipulação sob fins políticos e o duplo padrão no tratamento do tema dos direitos humanos. O povo cubano usufrui de direitos e liberdades fundamentais, exibindo sucessos dos quais se sente orgulhoso, os mesmos que são uma quimera para muitos países do mundo, a incluírem os Estados Unidos da América, dentre eles o direito à saúde, à educação, à previdência social, o salário igual por igual trabalho, os direitos das crianças e, o direito à alimentação, à paz e ao desenvolvimento”, disse Havana.

O governo cubano também afirmou ter “sérias preocupações pelo respeito e pelas garantias dos direitos humanos” nos EUA, citando os “inúmeros casos de assassinatos, brutalidade e abusos policiais, em particular contra a população afro-americana”, a violação ao “direito à vida como resultado das mortes por armas de fogo”, a exploração do trabalho infantil e “graves manifestações de discriminação racial”, as restrições ao acesso à saúde, em decorrência da revogação do programa Obamacare por Trump, a “desigualdade salarial entre homens e mulheres”, a xenofobia, a islamofobia e “o abandono de compromissos internacionais para a preservação do meio ambiente e enfrentamento da mudança climática”.

“As mudanças que forem necessárias fazer em Cuba, tais como as realizadas desde 1959 e as que estamos executando no dia de hoje como parte do processo de atualização do nosso modelo econômico e social, seguirão sendo decididas, de forma soberana, pelo povo cubano. Como temos feito desde o triunfo do dia 1º de janeiro de 1959, assumiremos qualquer risco e continuaremos firmes na construção de uma nação soberana, independente, socialista, democrática, próspera e sustentável”, encerrou Havana.

Edição: Opera Mundi