A rota de refugiados no Mediterrâneo é uma das mais importantes do mundo. A Turquia – país que abriga a maior parte deles, cerca de 2 milhões – está a apenas poucos quilômetros, pelo mar, das ilhas gregas, principais pontos de chegada por essa via.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) havia registrado 7.927 mortes de migrantes no mar em 2016, em todo o mundo. Só no Mediterrâneo foram 5.143.
Uma passagem da Turquia para a Grécia pela mesma via custa cerca de 10 euros, enquanto a rota insegura oferecida pelos traficantes pode chegar a um custo de 4 mil dólares, conforme o relato de muitos dos refugiados em Moria. A ONU tem insistido na necessidade de uma rota segura na região para acabar com as mortes, sem grandes resultados: 2016 bateu um novo recorde nesse quesito.
As Nações Unidas dão apoio a outro campo na ilha, de Kara Tepe, administrado pela Prefeitura. Perto do campo do governo federal, é um modelo de boa gestão, mostrando que algo melhor pode ser feito. No local, os refugiados – cerca de mil, no total – possuem espaços infantis e hortas administrados pelos próprios moradores, com apoio de ONGs que atuam na região. A situação migratória, no entanto, é a mesma de todos os demais solicitantes de visto. E Kara Tepe também tem problemas, como a falta eventual de luz e água potável.
Sob um acordo da União Europeia com a Turquia, migrantes e refugiados que chegavam após o dia 20 de março do ano passado poderiam ficar detidos em um dos centros localizados nas cinco principais ilhas gregas do Mar Egeu, incluindo Lesbos. Caso sejam pegos se movimentando pela ilha sem documentos, afirmam, os migrantes podem ser presos dentro do próprio campo de Moria, onde foi instalado um centro de detenção.
Um integrante de uma organização não governamental me aciona: “Há um incêndio em Moria, você precisa ir para lá”. Um botijão de gás explodiu, matando uma mulher de 66 anos e uma menina de seis. Outras duas pessoas foram levadas para Atenas gravemente feridas. Uma delas, a mãe, estava em coma até o fechamento da edição.
“Nunca é acidente”, diz um refugiado palestino vivendo no campo. “Eles colocam você lá e nos deixam nessa situação estressante para desestimular os refugiados. O incêndio não é a causa, é uma consequência da política que eles fazem”, opina.
As condições insalubres e os atrasos na avaliação das solicitações de refúgio – alguns com quem conversei esperavam há mais de seis meses para serem chamados para a primeira entrevista – são alvo de constantes protestos, como um ocorrido no final de 2016, logo após o incêndio.
Em um dos cartazes, uma questão era colocada: “Precisará outra família morrer antes que consigamos uma solução?”
*Os nomes verdadeiros dos refugiados e solicitantes de refúgio entrevistados foram omitidos como forma de preservar suas identidades
Edição: MigraMundo