Segue até esta próxima sexta-feira (30) a “Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano: nos caminhos das águas do São Francisco”, que percorre desde segunda-feira (26) seis municípios do Semiárido baiano: Juazeiro, Campo Formoso, Jacobina, Casa Nova, Remanso e Campo Alegre de Lourdes. Participam Movimentos Populares, Universidades, Centros de Pesquisas e órgãos públicos para vivenciar diferentes realidades e contrastes. A caravana reúne cerca de 70 pessoas em duas rotas e tem refletido sobre modelos de desenvolvimento e sistemas agroalimentares a partir de elementos comuns a bacia hidrográfica do Rio São Francisco.
As caravanas agroecológicas são uma metodologia que se iniciaram na preparação do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que aconteceu em Juazeiro, da Bahia, no ano de 2014. E ao longo dos anos vem sendo realizada como para conhecer os territórios onde se desenvolvem a agroecologia, anunciando as experiências e denunciando as violações sofrida pelos povos. Cheila Bedor, professora da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) e integrante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), explica que a caravana reúne uma diversidade de olhares sobre o território do Submédio São Francisco. “Essa caravana tem um olhar interdisciplinar. Ela tem esse diferencial porque temos olhares de várias áreas, inclusive da saúde, para olhar para o território. Ela foi uma construção longa, de quase um ano, para identificar os territórios, para conversar com a comunidade, para a gente se conhecer um pouco antes. Então, a caravana já vem acontecendo há um ano nessa preparação para esse conhecimento que a gente vem adquirindo e agora conseguimos fazer a caravana que está riquíssima”.
A Caravana também tem como proposta visibilizar as denúncias, conflitos e experiências de resistência e organização de comunidades dos municípios visitados. A região do Submédio São Francisco é uma região de muitos conflitos agrários, por conta das grandes obras presentes na que concentram água e terra. O agronegócio e o hidronegócio visam a expulsam dos povos que lutam e resistem por seus territórios. “A gente está passando por várias cidades banhadas pelo rio São Francisco e essa Caravana Agroecológica vai passar por diversas comunidades para mostrar quais impactos que essas comunidades estão sofrendo com os grandes empreendimentos vinculados ao território principalmente vinculado a conflito de água e terra”, explica Uschi Silva, da Rede Nordeste de Núcleos de Agroecologia (Renda).
Seis eixos orientaram a construção das rotas da Caravana: os impactos da mineração, conflitos fundiários, conflitos por água, uso e impactos de agrotóxicos, experiências agroecológicas e resistências comunitárias. “Sem a cultura e sem a organização popular não tem comunidade, não tem território. Então acho que a agroecologia contribui nisso porque ela traz os olhares dessas populações, os seus saberes, os seus modos de vida, a sua interação com a natureza local. A forma de vivenciarem o Semiárido a questão da seca, que aqui tem o mercado da água e aqui as comunidades falam em convivência com o Semiárido, então acho que isso está muito atrelado a processos agroecológicos.”, conclui Uschi.
Como parte da programação, aconteceu nesta quarta-feira (28), na cidade de Casa Nova, o seminário “Ameaça aos Territórios Tradicionais”, onde as populações denunciaram as violações que tem sofrido por conta do agronegócio e do hidronegócio na região e da prática da grilagem de terra por grandes empresas. “A gente em Casa Nova é um município que sempre houve essas práticas de grilagem por grandes fazendeiros. É um município que quem manda são os coronéis e essa prática continua até hoje. Pessoas que têm dinheiro se acha no direito de massacrar os agricultores e agricultoras”, contou Valério Rocha, da comunidade de Fundo de Pasto de Areia Grande, no município de Casa Nova.
A culminância entre as duas rotas e o encerramento da caravana acontece nesta sexta-feira no Espaço Plural da Univasf, em Juazeiro. Os participantes vão trocar as impressões e aprendizados dos dias em campo. A caravana integra o processo preparatório para IV ENA, com previsão para acontecer em 2018, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
Edição: Monyse Ravena