Discutir as principais questões que envolvem os países pertencentes ao continente africano é o foco da segunda Conferência Pan African Today (PAT), que se inicia nesta sexta-feira (30), em Borj Cedria, na Tunísia.
Ao todo, estão reunidos representantes de movimentos não só da África, mas também da diáspora (fenômeno sociocultural e histórico de dispersão da população africana por países além do continente devido à imigração forçada para fins escravistas), totalizando 39 países de cinco continentes.
Estão presentes o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST); a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), que representa uma articulação de diversos países da América Latina; o Sindicato Nacional dos Metalúrgicos da África do Sul (Numsa) e United Front, ambos da África do Sul; o Partido Socialista da Zâmbia; o Fórum Socialista, de Gana; entre outros.
Seguindo a visão pan-africanista de Kwane Khrumah (1909-1972) - líder político e presidente da Gana de 1960 a 1966 -, que visava uma ruptura com o neocolonialismo, com o imperialismo e seus aliados africanos -, a tendência política Pan African Today pretende discutir de forma abrangente diversas questões, muitas vezes tidas como tabu na África, incluindo gênero, desigualdade, emancipação ambiental, econômica, cultural e política.
Segundo o co-coordenador da atividade, Fathi Chamkhi, a nova articulação no continente busca, em resumo, criar a partir do território, uma rede de solidariedade que fortaleça a construção de uma plataforma socialista no mundo.
“A Conferência continua com o trabalho bem sucedido da primeira realizada em Lusaka [Zâmbia], de 25 a 27 de março de 2016, sob um tema ‘Construindo uma Plataforma Socialista Mais Forte para África’. Acreditamos que uma nova ordem mundial é possível através de princípios socialistas. Estamos certos de que esse processo de articulação e debate internacional é mais do que fundamental”, disse.
Diáspora
Segundo pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Inglaterra, mais de 1,7 milhão de pessoas foram trazidas da costa da África com destino à Bahia, para serem escravizadas. Deste total, cerca de 1,5 milhão chegaram vivos à costa brasileira.
A herança colonial da escravidão no Brasil se perpetua até os dias de hoje, visível nas diversas denúncias de racismo, encarceramento e genocídio da população negra e periférica, desigualdade social, entre outros fatores.
Neste contexto, estar em um espaço que visa construir alternativas comuns para enfrentar os problemas da população negra pelo mundo, torna-se estratégico e importante para qualquer movimento popular no Brasil, segundo uma das representantes do MST na atividade, Alexsandra Rodrigues de Lima, integrante da Brigada Samora Machel, que acompanha a conjuntura política, social e econômica do continente.
“Este espaço é muito importante para nós enquanto mulheres e homens negros do MST, não somente pelo posicionamento político, mas também por ser uma oportunidade de sistematizar uma reflexão coletiva sobre o pan-africanismo, pela nossa identidade negra sem-terra”, afirmou.
Formação
Entre umas das atribuições do PAT, e que foram encaminhadas logo após a primeira conferência na Zâmbia, está a criação e manutenção de uma escola de formação política e social, nos moldes da Escola Nacional Florestan Fernandes (Enff), localizada em Guararema, em São Paulo (SP).
Com sede na África do Sul, a escola recebeu o nome do ex-presidente de Gana, considerando o pai do pan-africanismo. Em pouco menos de um ano a “Nkrumah School” já realizou diversos cursos com a participação de representantes de vários países da África e do mundo.
Coordenadora do projeto, a zambiana Womba Nkanza, cujo mandato é de dois anos, tem boas expectativas para esta segunda conferência, na qual será realizada uma avaliação destes meses de atuação. “Até agora fizemos o nosso melhor e os resultados podem ser vistos”, comemora.
Edição: Rafael Tatemoto