No meu tempo, a gente era mais livre, vivia nas ruas e nas roças
Férias! Eba!
Hoje em dia tem muitas crianças que gostam de ir à escola e ficam doidas pra que as férias acabem e elas voltem às aulas. Acho que é porque só na escola é que elas encontram e brincam com outras crianças.
Em casa, só convivem com adultos.
No meu tempo, a gente era mais livre, vivia nas ruas e nas roças, convivendo muito com outras crianças. E não gostávamos de ir à aula, não víamos a hora da chegada das férias.
Só conheci duas crianças que ficavam meio com a pulga atrás da orelha quando as férias se aproximavam. Eram a Silvinha e o Roberto.
É que duas tias deles, que achavam muito chatas, Filomena e Florisbela, passavam todas as férias no sítio em que moravam. Levavam muitos livros didáticos para os sobrinhos, o que era bom, mas tinha um problema: exigiam que lessem logo.
Era o dia todo falando “leiam isso, estudem aquilo”. E o que a Silvinha e o Roberto queriam era pescar, nadar no córrego, brincar muito, mas não podiam.
A casa do sítio ficava a uns trinta metros da porteira na beira da estrada. O pai dessas crianças, seu Zé, viu uma coisa num filme e gostou: um sino colocado ao lado da porteira, para as visitas anunciarem sua chegada.
Bobagem. Ninguém tocava o tal sino. Abriam a porteira e entravam.
Mas essas senhoras, Filomena e a Florisbela, eram exceção. Formais, elas tocavam o sino e ficavam esperando alguém ir abrir a porteira para elas.
Numa tarde de junho, as crianças viram uma grande casa de marimbondos se formar no mourão da porteira e tiveram uma ideia.
A Silvinha tocou o sino várias vezes, o Roberto jogou uma pedra na casa de marimbondos e os dois saíram correndo.
No dia seguinte fizeram a mesma coisa. E continuaram fazendo até o final do mês, todas as tardes.
Dia primeiro de julho, as crianças estavam no alpendre da casa e viram parar um ônibus em frente à porteira. Dele, desceram a Filomena e a Florisbela.
Filomena tocou o sino e foi como um sinal para os marimbondos, que saíram furiosos. Cheias de ferroadas, as tias voltaram para a cidade, tiveram que ser levadas às pressas, de carro. E ficaram por lá.
Apesar da surra que levaram, a Silvinha e o Roberto acharam ótimas aquelas férias.
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