Há 50 anos, surgia um rugido das barricadas negras americanas. Em The Black Panthers: Vanguard of the Revolution (Panteras Negras: vanguarda da revolução) adentramos a militância de uma organização estadunidense única, pela sua radicalidade e pela sua influência nas massas.
Uma pantera não ataca primeiro; mas quando é atacada ou encurralada, responde ferozmente e sem piedade ao agressor. Esta explicação foi suficiente para que a organização que, em 1966, começava a crescer na periferia de Oakland, na Califórnia, levasse seu nome como bandeira e como identidade.
O filme The Black Panthers conta um sonho truncado. Narra como os negros e negras dos Estados Unidos passaram a organizar brigadas de autodefesa nos bairros e a entregar 300 mil exemplares semanais de seu jornal, que chegou a 500 edições. Também detalha a luta contra a polícia e contra o Poder Judiciário pelo direito de possuir armas e a brutal perseguição que sofreram quando o FBI declarou que eram "a ameaça número um para a segurança nacional".
De uma luta defensiva a um plano de dez pontos que permitiu que conseguissem milhares de militantes e se expandissem por 68 cidades nos Estados Unidos, os Panteras Negras cresceram e se consolidaram enquanto desenvolviam uma estratégia política em que a construção com crianças e jovens dos bairros assumia um lugar central. Os Panteras Negras chegaram a alimentar 10 mil crianças por dia com um programa de alimentação.
O documentário apresenta imagens pouco divulgadas e entrevistas com dirigentes e integrantes de base do partido, jornalistas, informantes da polícia e do FBI.
Além disso, adentra a campanha da liberação de Huey Newton, um dos dirigentes presos, o que provocou mudanças culturais no movimento e o papel das mulheres na luta contra a opressão.
O documentário emociona pela música, pela estética e pelos discursos. Para quem não conhece a história da organização e para quem conhece só superficialmente, The Black Panthers é uma recomendação absoluta. Uma fera nascida das entranhas do imperialismo que se propôs a perturbá-lo, que compreendeu e discutiu abertamente em programas de TV que o racismo era intrínseco à ordem econômica e política e que para erradicá-lo, era preciso se organizar.
Sem estar isento de debates e disputas internas e má fama, suas ações políticas fizeram com que se tornassem o principal inimigo interno do governo dos Estados Unidos por quase 20 anos. E a sua história, poucas vezes narrada de forma tão dinâmica e completa, pode ser vista no Netflix.
Edição: Notas Periodismo Popular