O prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) atacou, nesta sexta-feira (7), o repórter Arthur Rodrigues, do jornal Folha de São Paulo em um vídeo nas redes sociais. Em sua página no Facebook, ele publicou um vídeo contra a reportagem “Doações empacam, e somente 8% do valor prometido por Doria é efetivado ”, publicada na edição de ontem pelo jornal e contra seu autor, o repórter Artur Rodrigues.
Dória tenta desqualificar o profissional, repetindo o nome e marcando a página do repórter no post do vídeo. Ao expor o repórter, Dória permitiu que os seus seguidores atacassem pessoalmente o jornalista. A Prefeitura retirou uma hora depois a marcação das redes sociais e afirmou que ocorreu um erro, porém manteve o nome do repórter. A atitude de Dória gerou revolta entre colegas da imprensa. A página ' Jornalistas contra o assédio ' publicou um texto em que afirma "não é intimidando jornalistas - e expondo, com isso, uma integridade física e moral do profissional - que a política vai melhorando os rumos da sociedade".
O texto ressalta ainda que não pode tolerar esse tipo de atitude em um período democrático. "Já foi o tempo em que perseguir jornalista era assunto velado. Ou se aceita a democracia como ela é - com direitos, e também com deveres básicos como o respeito -, ou retrocedemos à" política antiga "que pessoas como o prefeito de São Paulo Juram combater."
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo divulgou a nota abaixo em repúdio a agressão verbal de Doria ao repórter:
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) repudia uma manifestação agressiva e descritiva do prefeito de São Paulo, João Doria, contra uma reportagem "Doações prometidas por Doria empacam", publicada na edição de sexta (7) do jornal Folha De S.Paulo, e seu autor, o repórter Artur Rodrigues.
Uma reportagem, correta e bem apurada, mostra que, de um total de R $ 626,5 milhões em doações de empresas anunciadas pela Prefeitura de São Paulo para uma cidade, neste ano, apenas R $ 47,7 milhões de fósforos realizados até O momento. Do restante, R $ 352,1 milhões estariam "em tramitação", R $ 225,3 milhões sem receita de uma "proposta oficial", além de R $ 1,4 milhão sem informação.
O texto expõe um conjunto de dados mostrando detalhes aos leitores, exemplifica diversas situações (como empresas que dizem não ter conhecimento de doações atribuídas a elas) e dedica uma parte considerável do espaço às afirmações da própria Prefeitura a respeito da questão (o chamado “outro lado”). Sua base são os números divulgados pelos órgãos oficiais.
A matéria confirma a justeza das preocupações com a falta de transparência nas doações à Prefeitura, questão já levantada em reportagem da Rádio CBN mostrando que as doações de laboratórios farmacêuticos incluíam remédios perto da data de vencimento – inviáveis, portanto, para a comercialização.
Lamentavelmente, em resposta à reportagem, o prefeito João Doria posta em rede social um depoimento destemperado, que não contesta diretamente nenhum dado apresentado, e busca simplesmente, com base no poder que emana de seu cargo, desqualificar o repórter e a reportagem.
O SJSP considera que os governantes têm como obrigação primeira prestar todas as informações de relevância pública que envolvem a sua gestão. A agressão a um repórter, que fez com diligência o seu trabalho de divulgar fatos de amplo interesse, mostra um governante avesso a uma análise séria de seus procedimentos, e que acredita que com base no ativismo em mídia social e na agressividade consegue calar qualquer abordagem crítica.
Da próxima vez, senhor prefeito, responda à reportagem com fatos e dados, e não com falatório no Facebook.
Expressões nossa solidariedade ao repórter Artur Rodrigues, bem como uma defesa da liberdade de imprensa, essencial para superarmos o difícil momento que vivemos no nosso país.
São Paulo, 7 de julho de 2017.
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Edição: Anelize Moreira