Dois policiais militares envolvidos na morte do catador de recicláveis Ricardo Silva Nascimento foram afastados de seus cargos pela Secretaria de Segurança Pública estadual. Integrantes da guarnição de Força Tática que prestaram apoio na ocorrência também estão afastados.
Ricardo, conhecido como “Negão”, foi morto na noite desta quarta-feira, após ser baleado pelo PM José Marques Madalhano em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. O catador de 39 anos teve o corpo retirado do local pelos próprios policias antes da perícia.
O assassinato de Ricardo Nascimento não é um caso isolado e reflete um cenário maior de vulnerabilidade das pessoas em situação de rua e dos catadores, principalmente quando não estão organizados em cooperativas.
É o que explica Eduardo Ferreira de Paula, membro da coordenação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. "Essa barbárie que aconteceu com o Renato já vem acontecendo há muito tempo. A profissão dos catadores, todo mundo enxerga de um modo diferente. Então todo catador que está puxando um carrinho, nas ruas, trabalhando, lutando pelo pão, sofre com o preconceito e com a violência, e ela vem de todas as formas agora."
Sergio Bispo, conhecido como Bispo Catador, é criador do coletivo Kombosa Seletiva, que busca promover a conscientização da sustentabilidade e melhorar o trabalho dos profissionais que recolhem o lixo na cidade.
Ele explica que o preconceito e o descaso do poder público com a profissão de catador são agravantes dessa situação de vulnerabilidade. "A gente já tem a discriminação do nosso trabalho, somos xingados nas ruas, discriminados por tudo isso. Mas agora eles estão partindo para a violência moral, física, na 'bala'", declara.
Bispo e Ferreira concordam que o diálogo entre o poder público e as cooperativas de catadores é essencial para uma cidade melhor, livre de preconceitos contra essa parcela da população.
Segundo levantamento do Movimento Nacional, cerca de 20 mil catadores e catadoras são responsáveis por diminuir a quantidade de materiais recicláveis gerados na cidade de São Paulo. No Brasil, esse número cresce para 800 mil.
Para Eduardo Ferreira, o que falta é apoio para que esses profissionais tenham melhor qualidade de vida.
"Nós, catadores e catadoras de materiais, estamos sempre a serviço da sociedade. Estamos promovendo um bem para o meio ambiente, para o poder público e até para a comunidade. O nosso trabalho é de grande utilidade. Não é um serviço de preconceito. Preconceito quem faz é a sociedade. Todas as profissões têm problemas na vida. E a nossa, que estamos defendendo o pão e indo às ruas, enquanto outros querem nos reprimir através da morte", conclui.
O 23 Batalhão da Polícia Militar Metropolitana instaurou inquérito policial para investigar o caso.
Edição: Camila Salmazio