Diante de 3.614 policiais, o presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro, defendeu a necessidade de paz desde a perspectiva do combate à criminalidade e ao terrorismo da extrema direita, a quem o governo atribui a responsabilidade pelos mortos e feridos em manifestações que ocorrem desde abril deste ano.
"Temos que seguir construindo um sistema policial integrado para defender e proteger o povo, para defender e proteger a pátria. Para construir o socialismo, precisamos de segurança e paz". A declaração foi feita por Maduro durante cerimônia de condecoração militar na tarde desta sexta-feira (14), no Poliedro de Caracas, ao sul da capital venezuelana.
Para assumir as chamadas tarefas para a paz do país — que ainda não foram explicitadas —, Maduro nomeou o capitão Ronald Blanco La Cruz, que deixou de ser reitor da Universidade Nacional Experimental da Segurança da Venezuela (UNES), focada no desenvolvimento de estratégias de segurança nacional.
Blanco defendeu a paz entre o governo bolivariano e a oposição, e parafraseou o pastor estadunidense Martin Luther King em seu discurso: "Eu tenho um sonho: que se estabeleça uma mesa de negociação e acordo, e que se firme um acordo de paz na República Bolivariana da Venezuela entre o governo e a oposição".
Para Maduro, o processo de construção de uma nova Constituição, que começará no dia 30 deste mês, será o caminho para este acordo. "A paz está próxima, e sabe por que a paz já vem? Porque está chegando a Constituinte! E com a Constituinte chegará a paz", ressaltou o mandatário.
Também na sexta, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, publicou um comunicado defendendo "paz e democracia na Venezuela", sublinhando que uma solução para a atual crise deve ser encontrada apenas pelos venezuelanos.
"A solução passa por um acordo, eleições e o respeito pelos direitos fundamentais e pelos poderes constitucionais", disse Guterres, apelando ao diálogo entre o governo bolivariano e a oposição para erradicar a violência a partir de uma saída constitucional acordada.
No Poliedro de Caracas, estavam presentes 3614 policiais, que participaram da cerimônia de Formação Conjunta do Programa Nacional de Formação Policial.
Além de processos rotineiros de promoção dos oficiais, foram condecorados pelo menos seis policiais que foram vítimas dos ataques, classificados pelo governo como terroristas, da direita nos últimos três meses. Entre os agentes do Estado havia os que foram feridos nos olhos, nos braços, nas pernas e um que chegou com cadeira de rodas.
Dia da Polícia
Além das condecorações e reconhecimento, Maduro anunciou um aumento de 85% nos salários de todas as categorias, o que provocou um alvoroço imediato na plateia. Serão 178 bilhões de bolívares disponibilizados para esse reajuste.
Segundo a assessoria de comunicação do governo venezuelano, os policiais ganham atualmente 180 mil bolívares; com o reajuste, o salário passará a 332 mil bolívares (US$ 123 na taxa de câmbio mais alta, e US$ 40 no mercado paralelo). Eles ainda ganham um bônus alimentação de 135 mil bolívares (US$ 50 na taxa de câmbio mais alta, e US$ 16 no mercado paralelo), que não teve reajuste.
Jesús Silva, doutor em direito constitucional venezuelano, afirmou, em entrevista coletiva concedida a jornalistas, que o aumento de salário para as polícias é um ânimo para o povo venezuelano que apoia a revolução bolivariana, mas ressaltou que nada deve mudar na conduta da oposição:
"A oposição, pelo menos seus dirigentes, tomaram o caminho da violência, do terrorismo. E essa decisão, até o momento, é irreversível, porque é uma coalizão política que não governa a si mesma, mas obedece a um plano do imperialismo internacional. As contradições são irreversíveis entre o modelo socialista do governo de Nicolás Maduro e uma posição capitalista de seus chefes no norte".
A cerimônia, da qual participaram também uma dezena de jornalistas convidados, ocorreu no Dia Nacional da Polícia no país, que também é o aniversário de morte do general Francisco Miranda, herói nacional que participou dos processos de independência dos Estados Unidos, da Revolução Francesa e, finalmente, do processo de independência da Venezuela, em 1811.
*A jornalista viajou a Caracas a convite do governo venezuelano
Edição: Vanessa Martina Silva