O prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PHS) forneceu, na última segunda-feira (17), uma entrevista ao portal El País a respeito do alto preço dos ingressos cobrados pelos grandes clubes brasileiros.
Em sua fala, o político afirmou que "futebol não é coisa pra pobre", e que as entradas são caras em todos os lugares do mundo.
Na quarta-feira (19), a torcida organizada do Cruzeiro, Resistência Azul Popular (RAP), divulgou uma carta de repúdio à declaração. Para a organização, o esporte sempre foi uma atividade para as classes mais baixas, “até que o mercado enxergou o seu potencial de lucro”.
Confira o documento, na íntegra:
"Carta da R.A.P. para Alexandre Kalil
Não estamos direcionando a carta ao ex-presidente do Atlético Mineiro, mas sim para o atual prefeito de Belo Horizonte, que recentemente deu uma entrevista para o jornal El País, ao qual declarou que “futebol não é coisa de pobre”.
Tal declaração de um prefeito que tem responsabilidades com lazer, esporte e cultura gera ainda mais preocupações com tais segmentos da cidade do que se a infeliz declaração fosse feita por um cartola.
Primeiramente liberdade para Rafael Braga, um pobre que não somente está impedido de ir aos estádios, mas como também tem sua liberdade impedida pelo simples fato de ser pobre. Dito isso, futebol não é “coisa”, parece que o tempo no esporte preferido dos brasileiros não foi suficiente para o Kalil captar a essência do futebol. Temos que repetir o quanto necessário for: futebol sempre foi pra pobre e na sua grande maioria das vezes foi feito por pobres e para pobres. Isso até um dia em que o mercado enxergou seu potencial de lucro, o enxergou como mercadoria, uma junção incrivelmente poderosa de sua imensa popularidade somada com uma paixão ainda maior.
No Brasil, pro mercado lucrar e continuar lucrando ainda mais, foi necessário realizar mudanças graduais nas características da cultura de tudo que gira em torno do futebol, acelerado bruscamente com a realização da Copa do Mundo no país. O Futebol não foi somente apropriado por interesses econômicos, mas também políticos. Exemplos no Brasil e no mundo de Governos que utilizaram o futebol como propaganda ou para se eleger em cargos políticos são diversos, dos tempos de ditadura com a seleção canarinho aos dias atuais, o senhor mesmo sabe disso, não é mesmo?
Vamos repetir isso em todos os cantos, gritar bem alto, pois muita gente já nasceu no tempo dessas arenas frias e acreditam que essa sua declaração é verdadeira, um empresário desde sempre e apesar de negar a alcunha (de forma marqueteira), um “político” como nunca.
Em seu passado como presidente do Atlético, quantas vezes você recorreu ao pobre para encher o estádio e não ter o padrão de comportamento do torcedor elitizado que fica sentado batendo palma pontualmente, diminuindo o valor dos ingressos no momento que seu time estava passando por uma fase complicada? Pobre serve somente nessa hora? Quantas vezes você e todos os dirigentes se orgulham de mostrar que possuem milhões de torcedores em todas as classes para conseguir abocanhar uma verba maior de patrocínio ou cota de TV? Sua relação com pobre é de um legítimo empresário, um gestor que só aproveita de quem mais necessita, mas na hora do filé, quem vai comer é só quem tem mais dinheiro.
Lembre-se que o futebol usufrui do dinheiro público, clubes ganharam terrenos, tiveram dívidas renegociadas e grande parte dos estádios são frutos de dinheiro dos nossos impostos. Inclusive o Mineirão e o Independência. Ah, prefeito, A BWA, ao qual você realizou o contrato tem tantas tretas quanto a Minas Arena e vale lembrar que a reforma do estádio do Horto era para que os clubes de BH tivessem uma casa durante as reformas do Mineirão, o que não aconteceu, o dinheiro público só serviu pra BWA lucrar.
Devido a tudo isso, o futebol tem todo o dever com o social e você como prefeito negar isso só demonstra o tipo de gestão que pretende nos empurrar. Aqui na R.A.P. não tem clubismo, sabemos que esse pensamento não é exclusivo seu, está presente na imensa maioria dos cartolas, inclusive nos do Cruzeiro. Mas enquanto existir expulsão dos pobres no futebol, haverá RESISTÊNCIA. Assim como os dirigentes de outros clubes, você é um típico empresário distante de observar as diversidades e adversidades, além de ser filho de dirigente que nunca precisou pegar uma fila para ir em campo, não precisava se preocupar se ia ou não numa partida que sonhava em ir. Não esquecemos que também lucrou com o futebol, vale lembrar seus empréstimos a juros consideráveis (35% ao mês segundo o Ministério Público em matéria do jornal o Globo) para o Atlético.
É por isso tudo que pra você é fácil expulsar os pobres do futebol. Fica esperto, pois a arquibancada vai te cobrar por qualquer ato contra o povo".
Edição: Joana Tavares