Objetivo é reduzir dependência da importação de insumos e viabilizar produção de alimentos no meio urbano
Em pleno centro de Caracas, na Venezuela, o agricultor Manuel Lenin Velásquez planta pepino, berinjela, banana, abacate, hortaliças e outros alimentos na Horta Organopônica Bolívar 1, que conta com 155 canteiros. Além dos legumes, Velásquez também produz as sementes para continuar plantando esses e novos vegetais.
O espaço, que foi inaugurado há quatro anos e meio pelo então presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez, é um exemplo do modelo de produção de alimentos que o país está priorizando no momento para evitar a falta de alimentos, causada principalmente por boicotes econômicos.
Uma das ações é a produção de sementes agroecológicas, que visa a independência da importação de insumos. Para isso, foi feito um projeto com parceria entre o Ministério de Agricultura Urbana da Venezuela, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês).
O representante da FAO, Marcelo Resende, explicou como surgiu a iniciativa: "O presidente Nicolás Maduro demandou da FAO junto com o MST a organização da produção de sementes, porque o básico da produção agrícolas é justamente as semente. E a Venezuela tem uma baixa capacidade de produção de sementes".
O projeto foi lançado na quinta, 13 de julho, durante uma cerimônia na Unidade de Produção do Coletivo Hugo Chávez, que tem 17 hectares e fica em El Junquito, uma região periurbana do distrito de Caracas.
Mais de 30 produtores da capital venezuelana e dos estados de Miranda, Lara e Mérida receberam do MST uma doação de 50 quilos de sementes agroecológicas e insumos para o plantio.
Segundo Denir Sosa, responsável do MST pelo projeto, a primeira fase está focada nas hortaliças, porque são produtos de ciclo rápido, ou seja, se reproduzem em até 180 dias. Esse fator é fundamental quando o país está passando por um problema de abastecimento e precisa produzir alimento o mais rápido possível.
"Nós estamos tentando trazer para cá uma metodologia de reprodução de sementes, fazer a educação mostrando que é importante reproduzir sua sementes, trazer a técnica de como reproduzir a semente de hortaliças, para ver se os produtores venezuelano conseguem deslanchar, e parar de comprar tanta semente como fazem agora", conta Sosa.
Recém-empossada, a diretora-geral da Fundação de Capacitação e Inovação para Apoiar a Revolução Agrária, a Fundação Ciara, Isbelya Malave, aposta que, com esse projeto, o país alcançará a soberania na produção de suas próprias sementes em quatro anos.
Mas, para isso, é preciso enfrentar um grande desafio: mudar o modelo econômico e a cultura da economia rentista: "São muitos anos. Mais de 50, 60 anos que temos essa cultura petroleira. E, apesar que, tanto no governo anterior quanto em nossa republica, sempre falamos em desenvolver o petróleo. Nós temos colocado como prioridade a mudança de modelo econômico, mas não estamos sozinhos. Nós temos propósito e trabalhamos organizativamente e politicamente com as pessoas mas temos o capitalismo e as transnacionais [falando] através dos meios…Essa contracultura é braba. Essa luta não é fácil".
O projeto de sementes faz parte do Programa Sana, criado pela FAO e pelo governo da Venezuela em 2015 para apoiar organizações e movimentos populares de agricultura familiar.
Edição: Mauro Ramos