Diante do despejo, uma nova ocupação. Essa foi a resposta de um grupo de sem-teto de Vitória, capital do Espírito Santo, à falta de soluções imediatas do poder público ao problema de moradia. No domingo (23) houve a reintegração de posse na Ocupação Chico Prego, no Centro da cidade,onde estavam há três meses. Mas nesta terça (25), o grupo ocupou um novo prédio. Essa é a quarta ocupação que realizam em quatro meses.
Maria Clara Silva, uma das coordenadoras do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, é enfática:
“Nós estamos continuando a luta. Nós vamos lutar para resistir e não deixar morrer nosso projeto, que é do direito à habitação, direito à cidade, direito à terra para plantar, direito à terra pra morar. Nós temos direito, não pedimos favor nem esmola, estamos pedindo um direito, respeito para o ser humano. Isso nós não vamos esquecer e não vamos abaixar a crista para ninguém.”
O movimento teve início num terreno baldio na periferia de Vitória, conhecido como Fazendinha. Diante do primeiro despejo, o grupo seguiu para a Casa do Cidadão, onde fica a secretaria de Cidadania e Direitos Humanos da Prefeitura municipal. Depois, um edifício da União, vazio há sete anos no Centro da cidade foi o novo destino. Lá, a ocupação ganhou o nome Chico Prego.
Depois da saída pacífica no domingo e sem qualquer apoio do poder público, cerca de 70 pessoas tiveram que dormir em condições precárias nos últimos dois dias, como relatou Romara Amorim.
"Se não fossem os vizinhos ficarem com pena e trazerem agasalhos, doações, as crianças estariam até agora com a roupa molhada de chuva, com fome, com frio, sem agasalho nenhum, sem um colchão para dormir. Nós fomos tratados como cachorro”.
Diante disso, um novo edifício privado em desuso há anos foi ocupado nesta terça (25) no centro da cidade. Levantamento da Associação de Moradores do Centro de Vitória aponta a existência de mais de cem imóveis abandonados só nesse bairro, comenta Everton Martins, presidente da associação.
“A gente vê na ocupação uma forma de as pessoas que têm problemas ou que sentem falta de uma moradia externalizar isso para os governos. Ainda há, aqui no centro, imóveis que estão ociosos e que poderiam cumprir uma função social para esses programas dos governos”.
Foto: Vitor Taveira/ BdF
Para Lucas Martins, integrante das Brigadas Populares, organização que participa da coordenação da ocupação, a crise econômica continua empurrando trabalhadores e trabalhadoras para as ocupações de moradias:
“A maior parte das pessoas que estão aqui é de pessoas que perderam seus empregos. São desempregados sem possibilidade de pagar aluguel. Então, a gente está lidando com uma situação em que, a medida que vai avançando a crise econômica, vão avançando os problemas sociais. Por isso, a urgência de nossa mobilização."
Grávida de três meses, Adriana Ferreira é uma das ocupantes, junto a seus quatro filhos. Ela conta que o pai de seus filhos morreu, teve de ficar com todas as crianças.
"Eu estava trabalhando e fiquei desempregada. Aí não conseguia pagar o aluguel e fui despejada de casa logo quando começou a [primeira] ocupação lá na Fazendinha. Sem lugar pra ir, com quatro crianças, a gente foi atrás tentar conseguir uma moradia.”
Além da Ocupação Chico Prego, duas ocupações recentes acontecem no município da Serra, na região metropolitana, e outra em Linhares, no interior do Espírito Santo. A maioria delas surgiu de forma espontânea e algumas são apoiadas ou coordenadas pelo Movimento Nacional de Luta pela Moradia e pelas Brigadas Populares.
Na semana passada, estas duas organizações decidiram unir forças e, junto a representantes das ocupações e outras lideranças sociais capixabas, lançaram o Coletivo Resistência Urbana, buscando maior organização, unidade e força política.
Apesar dos despejos, a coordenação do movimento já aponta algumas vitórias de suas ações, como uma maior visibilidade e apoio social à causa, o cadastro das famílias no CadÚnico para receber assistência social e o avanço de negociações com a União para destinar o edifício que estava ocupado até domingo para moradia social.
Edição: Camila Rodrigues da Silva | Daniela Stefano