“Estou segura de que nós vamos ganhar essa constituinte, porque não podemos deixar nosso país nas mãos dessa oposição, que o único que faz é destruir e promover violência”. A declaração é de Milagros Rivera, de 40 anos, professora. Ela era uma das milhares de pessoas que lotaram a Avenida Bolíviar, no centro de Caracas, capital da Venezuela, nesta quinta-feira (27), para o encerramento da campanha pela eleição da Assembleia Nacional Constituinte.
O evento foi realizado na região oeste de Caracas. Não muito longe dali, na parte leste, historicamente controlada pela oposição, as ruas e avenidas amanheceram vazias em adesão à paralisação de 48 horas convocada por opositores ao governo de Nicolás Maduro.
A votação, que ocorrerá no próximo domingo (30), elegerá os 545 deputados constituintes responsáveis por redigir a nova Constituição do país. Eles trabalharão por tempo indeterminado na redação de uma nova constituição venezuelana.
Para Belisário Nieves, de 68 anos, que é candidato pelo setor dos pensionados, “a constituinte é o único caminho para sair dessa crise. E o mundo inteiro vai ver que nós estamos dispostos a seguir o caminho da independência e da soberania que não conseguiu Simón Bolívar, mas que o nosso presidente, Nicolás Maduro, sim vai conseguir, seguindo o legado do nosso comandante, Hugo Chávez”.
O presidente Nicolás Maduro compareceu ao evento, acompanhado pela primeira-dama, Cília Flores, de ministros do seu governo e de candidatos e candidatas à Assembleia Constituinte.
Em seu discurso, o presidente criticou a decisão do governo dos Estados Unidos de impor sanções a 13 autoridades venezuelanas, entre elas, o ex-vice-presidente da República, Elias Jaua e a presidenta do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena. “Trump, não se meta com o povo da Venezuela”, disse Maduro. “Trump go home” ressaltou.
Segundo Maduro, a constituinte não obedece a tradicional divisão partidária de poderes, colocando sobre os setores sociais organizados a responsabilidade de estabelecer os novos marcos constitucionais do país. Isso porque a escolha dos deputados e deputadas constituintes se dará por duas vias: territorial; e setorial, na qual serão eleitos outros 181 deputados constituintes entre oito setores sociais (indígenas, comunas e conselhos comunais, pensionados, empresários, estudantes, pessoas com deficiência, camponeses e pescadores, e trabalhadores ).
A oposição se nega a participar do processo, critica a estrutura definida para a eleição e tem convocado protestos violentos de maneira sucessiva, para pressionar o governo de a desistir do processo.
Veja como foi o encerramento do ato:
Diante disso, Maduro fez um novo chamado ao diálogo nacional, que inclua a todos os setores da vida política do país. Em dado momento de sua fala, dirigiu suas palavras a Julio Borges, do Partido Primero Justicia e atual presidente da Assembleia Nacional da Venezuela y Henri Ramos Allup, deputado opositor pelo partido Ação Democrática.
“Eu proponho à oposição política venezuelana que abandone o caminho da insurreição, que retorne à Constituição e instalemos nas próximas horas, antes da eleição e da instalação da Assembleia Nacional Constituinte, uma mesa de diálogo, um acordo nacional e reconciliação da pátria. Uma mesa nacional de entendimento, para falar dos grandes temas do país, para falar da paz”, disse o presidente.
Paralisação opositora
Enquanto ocorria o ato de encerramento, comandado por Maduro, e no qual compareceram os chavistas — como são chamados os apoiadores da revolução bolivariana —, a oposição organizava uma paralisação de 48 horas na região leste — a mais rica e tradicionalmente contrária ao governo.
Na Estação Chacaíto, do metrô, espécie de zona de transição entre o Leste e Oeste de Caracas, o comércio funcionava normalmente, com grande parte do comércio aberto, inclusive o Mercado de Chacaíto. Já a partir da Estação Chacao, a adesão foi quase que de 100%, com apenas pequenas bancas de jornais abertas.
Mais adiante, na Estação Altamira, na Praça França, havia as chamadas guarimbas (barricadas) feitas com troncos de árvores e lixo. Alguns motoqueiros pareciam vigiar as barricadas. Apenas um restaurante estava aberto por toda a praça, mesmo assim, vazio. “Amanhã tudo aqui vai funcionar normalmente”, apressou-se em explicar o garçom.
Nenhum carro passava na Avenida Miranda, a não ser motos e viaturas policiais, que monitoravam tudo de longe. Apesar da proximidade, até as 16h30 do horário local, não houve confronto entre manifestantes e polícia.
A oposição comemorou o encerramento da greve: “Aqui permanecemos na Avenida Rómulo Gallegos completamente vazia com o povo cumprindo com a greve cívica”, disse o deputado do partido Voluntad Popular, Juan Andrés Mejías.
Outros dirigentes do partido, que abriga o opositor Leopoldo López, felicitaram o movimento e prometeram mais protestos nos próximos dias. Líderes de sindicatos ligados à oposição também celebraram a paralisação.
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Edição: Vanessa Martina Silva