Violência no campo

Brasil está no topo dos países em que mais se mata ativistas por conflito no campo

A pesquisa realizada pela organização internacional Global Witness aponta que o número de mortos tem aumentado

Brasil de Fato | SP |
Amazônia Legal sedia nove entre dez desses crimes (87%); no primeiro semestre deste ano já foram registradas 33 mortes.
Amazônia Legal sedia nove entre dez desses crimes (87%); no primeiro semestre deste ano já foram registradas 33 mortes. - Reprodução

O Brasil lidera, há 5 anos, o ranking de países em que mais se mata ativistas que militam na luta por terra e defesa do meio ambiente. O ranking foi elaborado pela organização internacional Global Witness que, anualmente, realiza levantamentos de mortes em conflitos no campo. Entre as vítimas, estão indígenas, líderes camponeses ou mesmo advogados, jornalistas e funcionários de organizações.

Um outro mapeamento elaborado pela BBC Brasil aponta que a Amazônia Legal, região que engloba oito Estados partindo do Maranhão, sedia nove entre dez desses crimes (87%). A segunda região mais marcada por assassinatos de militantes é o Nordeste. 

A pesquisa mostra ainda que a maior parte dos crimes ocorre em um arco de zonas desmatadas na periferia da Amazônia, localizadas principalmente em Rondônia e no leste do Pará. A região do coração da mata, onde está grande parte da floresta preservada não tem números expressivos de crimes deste tipo. No período de 2016 a 2017, dois de cada três mortos ali eram sem-terra, posseiros ou trabalhadores rurais, bem como indígenas e quilombolas.

De acordo com os dados da Global Witness, a violência contra ativistas têm aumentado: em 2013 foram 32 vítimas; em 2014 foram 29; 50 em 2015 e 49 em 2016. No primeiro semestre deste ano já foram registradas 33 mortes. Os dados divulgados pela organização são pautados em informações coletadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). As entidades afirmam que a quantidade de mortos pode estar subestimada.

Causa

O mapa das mortes retrata que os casos se concentram em regiões marcadas pelo avanço da exploração de madeira, pecuária e agricultura."A terra na Amazônia está sendo tomada para agricultura e outros grandes negócios, bem como para exploração madeireira. O fato comum é que as comunidades não dão o seu consentimento sobre o uso da sua terra e de seus recursos naturais. Isso as coloca em rota de colisão com interesses poderosos, que leva à violência", disse Ben Leather, da Global Witness, à BBC.

Especialistas também apontam que a paralisação da reforma agrária é outro fator que pode aumentar ainda mais esses dados. Em 2016, a quantidade de terras destinadas a reforma foi a menor já registrada. Apenas 27 mil hectares foram destinados à reforma agrária ante 1,9 milhão em 2011, de acordo com dados do Instituo Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Edição: Luiz Felipe Albuquerque