No bairro cartão postal do Rio de Janeiro “não moram apenas os coxinhas”
O Movimento Copacabana por diretas e direitos, já, que costuma se reunir em uma praça do bairro cartão postal do Rio de janeiro, promoveu, na última quarta-feira (26), debate sobre o momento atual que atravessa o Brasil com a participação do presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino e do ex-Ministro Franklin Martins e a ex-Ministra Ana Holanda como mediadora.
Com a presença de mais de 200 pessoas, que lotaram as dependências do Teatro Princesa Isabel, o mesmo local onde há quase 40 anos estreava a peça histórica Roda Viva, foram debatidos temas relacionados com o que se passa no Brasil neste momento. Foi uma reflexão que demonstrou, segundo disse um dos presentes, que no bairro cartão postal do Rio de Janeiro “não moram apenas os coxinhas”, como tenta incutir diariamente a mídia comercial conservadora.
Foram mais de três horas de debates com intensa participação não apenas dos debatedores, como da platéia. Como ponto de destaque na apreciação de Pedro Celestino vale assinalar a reflexão segundo a qual o atual governo ilegítimo está levando o país a um retrocesso pré-1930, quando o Brasil era uma mera colônia exportadora, sobretudo de café.
Para Celestino, nem mesmo na época da ditadura militar ocorreu tamanho desmonte de conquistas sociais, sendo que na política externa os ocupantes do Palácio do Planalto estão promovendo um total alinhamento com os Estados Unidos, semelhante ao que ocorreu no primeiro governo dos golpistas de 1964 sob o comando do militar Castelo Branco.
Celestino fez ainda um paralelo com outros momentos históricos ocorridos no Brasil, lembrando inclusive que o então governo Café Filho, que substituiu inicialmente Getúlio Vargas, em 1954, tentou fazer o mesmo que o atual, ou seja, recuar nas conquistas relacionadas com a criação da Petrobras, mas só não conseguindo alcançar o objetivo porque não houve o apoio dos militares, que impediram o recuo. Mas atualmente, uma das primeiras iniciativas depois do golpe de 2016 foi impedir a Petrobras de ter a primazia na exploração da área do pré-sal.
Outro ponto assinalado por Celestino foi o acordo entre militares brasileiros, estadunidenses, peruanos e colombianos para manobras na região fronteiriça da região Amazônica. Para Celestino trata-se de um retrocesso sem paralelo na história do Brasil.
Destacou também o tipo de apoio conseguido pelos atuais golpistas, desde o agronegócio até a Igreja Evangélica, lembrando ainda que a prisão e condenação do Almirante Othon Pinheiro da Silva, o mais importante cientista brasileiro do setor nuclear ocorreu com o desmonte do programa nuclear brasileiro por pressão estadunidense.
Depois de mencionar o desmonte da CLT e o fortalecimento pelo governo Temer dos banqueiros, Pedro Celestino alertou “que temos de derrotar não pessoas, mas o projeto político defendido pelos golpistas de 2016”. E ainda questionou “de que adianta se livrar de um Temer para colocar em seu lugar um Rodrigo Maia ou quem quer que seja para levar adiante o desmonte do Estado brasileiro e a entrega despudorada das riquezas nacionais?”
Já o ex-Ministro Franklin Martins fez um paralelo entre a tática nazista da blitzkrieg ou guerra-relâmpago e a atual política do governo ilegítimo de Michel Temer. E explicou que ambas as táticas tentaram e tentam fazer tudo o mais rápido possível, porque se retardarem serão desmascarados pelos fatos. Ou seja, não terão condições de sustentação.
No caso da guerra relâmpago dos nazistas, só ocorreram em países pequenos e não foi possível levar adiante em países grandes, como no caso da então União Soviética, quando as tropas alemãs foram derrotadas. No caso do Brasil, um país continental a mesma tática adotada pelo governo ilegítimo atual não tem condições de vingar e será desmascarada o mais rápido possível.
Martins demonstrou estar otimista com as perspectivas nacionais, já que mais dia menos dia o atual governo ilegítimo será desmascarado pelos fatos e sua tática de guerra relâmpago não tem a mínima condição de se sustentar.
Franklin Martins assinalou também que o governo eleito de Dilma Rousseff foi derrubado por suas qualidades e não por seus defeitos. E admitiu que foram cometidos erros, como, por exemplo, no setor de comunicação, quando experiências feitas até mesmo pela internet foram anuladas e suspensas.
Em relação ao golpe de 1964 e de 2016 há diferenças sim, segundo o ex-Ministro. No de 53 anos atrás foram cortadas expectativas dos brasileiros e o mais recente foram jogadas no lixo políticas já colocadas em prática e que levaram as camadas pobres a conseguir coisas objetivas que melhoraram as suas condições de vida. “Não se pode negar, por mais que queiram os golpistas atuais, que melhoraram as condições de vida da um setor do povo brasileiro que sempre foi relegado a segundo plano pelos governantes nas últimas décadas”, disse.
Martins assinalou ainda que as chamadas elites brasileiras sempre relegaram a segundo plano as classes menos favorecidas por entenderem que elas não devem ter vez nas politicas econômicas governamentais.
O ex-Ministro Franklin Martins chamou a atenção para as injustiças que estão sendo cometidas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que os atuais detentores do poder querem de todas as formas impedir que ele seja novamente candidato à Presidência da República. Martins disse também que eles estão divididos e com dificuldades de apresentarem o candidato ideal para o grupo. Um dos espectadores presentes advertiu que as eleições presidenciais de outubro de 2018 correm o risco de não acontecer pelo fato de eles se sentirem ameaçados.
Foi lembrado pelos debatedores e pelos presentes ao debate que provavelmente em outra cidades brasileiras estariam ocorrendo também debates e reflexões como a que acontecia naquele momento em Copacabana.
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