A votação na Câmara dos Deputados que decidiria o destino da primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Michel Temer (PMDB) expôs a divisão interna do PSDB, legenda com a maior bancada entre os aliados do governo excetuando o próprio partido do presidente em exercício.
Entre a situação, a agremiação foi a que mais deu votos favoráveis a que o Supremo Tribunal Federal (STF) fosse autorizado a apreciar a denúncia por corrupção passiva formulada contra Temer.
Por 263 votos a 227, a denúncia foi enterrada. Para que prosseguisse, a oposição necessitava que 342 parlamentares – dois terços da Câmara – se posicionassem contra Temer.
Mesmo com a vitória obtida pelo governo, organizações e movimentos, assim como a oposição parlamentar, consideram que a votação de quarta-feira (2) representou um enorme desgaste ao Planalto.
Metade
O primeiro sinal da divisão entre os tucanos sobre como se posicionar diante do governo ocorreu quando o deputado federal Ricardo Tripoli (SP), líder do partido na Câmara, orientou a bancada, liberando os parlamentares do partido, mas indicado voto a favor da denúncia.
A decisão pegou de surpresa diversos deputados do partido, já que o relator da matéria, Paulo Abi-Ackel, integrante da bancada tucana por Minas Gerais, formulou parecer favorável a Temer.
Os ministros da legenda exonerados do governo para retornarem ao cargo de deputado, Antonio Imbassahy (BA) e Bruno Araújo (PE), votaram contra o prosseguimento da denúncia.
Ao final, os 47 deputados do PSDB se dividiram de forma quase exata: 21 se colocaram favoráveis à denúncia, ao passo que 22 votaram a favor de Temer. Outros quatro não estavam presentes.
“Olhando para trás, esse resultado é bom [para o Planalto], mas, olhando para frente, o governo precisa se recompor. Para se votar reformas, principalmente a da Previdência, o governo vai precisar reorganizar a base. Nesse ponto, é muito importante trazer o PSDB de forma unida de volta para o governo”, avaliou Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara.
Maia, entretanto, lembrou que as posições contrárias a Temer não necessariamente significam votos contra a reforma previdenciária.
2018
A relação entre PSDB e governo conta com uma série de fatores. Para o prefeito de São Paulo, João Doria, a principal razão para a distinção de tratamento dado ao PT e o agora concedido ao PMDB é simples: cargos. “Não é a mesma circunstância. É diferente. O PSDB tem quatro ministros”, declarou ele em junho.
Outra questão é o apoio dos tucanos da política de austeridade imposta pelo Executivo. O PSDB chegou a cogitar desembarcar do governo, ainda que apoiando a agenda deste.
Um elemento que pesa na disputa interna do PSDB são os escândalos de corrupção. O partido se viu seriamente atingido quando o senador Aécio Neves (MG), presidente afastado da legenda, e sua família foram alvos do Ministério Público Federal.
Os tucanos devem resolver em breve a questão da direção partidária. Temer trabalha para que o mineiro retome o protagonismo dentro da agremiação, o que garantiria a proximidade com a atual gestão federal, já que Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente interino do PSDB, tem se posicionado de forma mais distante do Planalto.
As eleições de 2018 também são levadas em conta no caso: a proximidade com um governo de popularidade extremamente baixa prejudica as pretensões de possíveis candidatos. Geraldo Alckmin (PSDB-SP), governador de São Paulo e que vem se colocando na disputa do ano que vem, defende que seu partido desembarque do governo assim que as “reformas” da Previdência e política forem aprovadas ou se tornarem inviáveis. O prazo máximo para essa decisão, defende ele, se esgota nos próximos 45 dias.
Edição: Simone Freire