Ampla mobilização nas ruas e dedicação constante ao trabalho de base ao lado da classe trabalhadora são os caminhos centrais para derrotar a retomada da pauta prioritária do governo golpista de Michel Temer (PMDB): a reforma da Previdência, segundo Jandyra Uehara, secretária de Políticas Sociais e Direitos Humanos da Central Única dos Trabalhadores (CUT)
Após a aprovação no plenário da Casa legislativa, na última quarta-feira (2), do relatório que impede a investigação de Michel Temer pelo crime de corrupção passiva no caso envolvendo a JBS, os ministros de Temer já têm deixado claro o objetivo de recolocar a reforma previdenciária em tramitação.
Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa-Civil, declarou que este será o item número um na agenda do governo e de sua base aliada. "A próxima batalha é a retomada da Reforma da Previdência", disse o peemedebista em entrevista ao Estadão. A base aliada deseja uma aprovação até outubro. Para que seja aprovada, no entanto, a reforma precisa ter o apoio de 308 dos deputados. Com cenário apertado, o presidente golpista conseguiu livrar-se do processo de investigação com um placar de 263 votos contra 227.
Para Jandyra Uehara, no entanto, a votação apertada não é aval para enfraquecer as mobilizações, que devem pautar um projeto popular para o país e defender os direitos democráticos visando a revogação das reformas impopulares de Temer como compromisso. Além disso, a secretária destaca que é preciso reorientar a luta contra a reforma trabalhista.
Confira a íntegra da entrevista:
Brasil de Fato — Gostaria que você começasse fazendo uma avaliação do fato de reforma da Previdência ser retomada na agenda de prioridades como pauta número um do governo Temer…
Jandyra Uehara — Era totalmente previsível que, se o Temer se livrasse da investigação, esse seria o próximo passo. O que une o grande capital, a direita e a mídia é a aprovação dessas "contra-reformas" para eles completarem um serviço de retirada de direitos da classe trabalhadora e do povo. [Temer] precisa responder àqueles que o deixaram lá. O capital e o mercado financeiro estão fazendo pressão sobre isso, afinal, a destruição da previdência é o caminho para os bancos lucrarem com a previdência privada. É a prioridade do mercado financeiro.
Mas essa questão não é tão simples assim. Os deputados que voltaram para a manutenção do Temer e que, anteriormente, já tinham dito que não votariam a favor da reforma, e vice-versa. No entanto, só tem recuo se tiver mobilização, luta de rua, pressão em cima desse Congresso. Esses votos são voláteis. Muitos que se declararam sob pressão popular quando a reforma da Previdência estava em pauta podem mudar seu voto se não tiver o mesmo nível de pressão que houve até o Ocupa Brasília, em 24 de maio.
Vamos falar um pouco do resultado desta quarta-feira (2). A oposição avalia que o governo não tem força para aprovar a reforma e conseguir o voto de 308 dos deputados, mas a base aliada declara que o resultado de quarta representa uma demonstração de força para ganhar futuras votações. Qual a avaliação que você faz entre esses dois cenários?
Essa caracterização que a oposição faz procede até certo ponto. Esse é um retrato do período em que a reforma era avanço na pauta em maio, sob grande pressão popular, porque nós ganharmos esse debate na sociedade. A maioria da população é contra a reforma da Previdência. Esse é um retrato daquele período.
Para manter essa inviabilidade, nós temos que conseguir retomar um nível de mobilização maior até do que nós tivemos nesses primeiros meses do ano. Esse Congresso é fisiológico, vendido. É imprescindível retomar uma pressão direta sobre cada um desses parlamentares, porque senão o governo avança e pode conseguir aprovar essa destruição da previdência no país. E nós temos um acúmulo político, massa crítica na sociedade e nos movimentos sobre esse assunto. Mas precisamos casar tudo isso com a organização de uma greve geral maior do que a de 28 de abril.
Gostaria de acrescentar algo?
Queria acrescentar uma questão que é muito importante em relação à reforma trabalhista. Nós não podemos, em hipótese alguma, achar que a luta contra a reforma perdeu o sentido ou acabou porque o projeto foi aprovado.
Para orientar a resistência concreta é preciso intensificar muito o trabalho de base para o entendimento do significado das reformas, do conjunto de "contra-reformas" que o governo golpista está fazendo e articular essa resistência nos sindicatos, nos locais de trabalho e não admitir acordos individuais que retirem direitos com a retomada de grandes mobilizações e greves.
São aspectos diferentes do trabalho político, mas um alimenta o outro. Precisamos dessas duas ações: a ação no local de trabalho, nos bairros, nas bases do movimento sindical e popular, mas também associada a grandes mobilizações, que deem sentido coletivo maior de unidade e luta para a classe.
Precisamos defender uma saída política popular para a crise que vive o Brasil. Isso passa pela reafirmação das forças populares, e não de um pacto contra as elites. A nossa saída tem que ser de reafirmação das forças populares, de um outro programa para o país. Precisamos vencer as eleições com o compromisso de revogação das contra-reformas do Temer e com uma constituinte que dê base ao reordenamento dessas instituições com reforma política, além de um programa de reformas populares para o país: reforma agrária, reforma urbana, democratização da mídia, tudo aquilo para 'empoderar' a classe trabalhadora e para retomar um caminho da democracia.
Estamos em um cenário muito difícil, mas não podemos perder a perspectiva de uma luta de classes, de um projeto para o nosso país. E para isso precisamos ter a maior parte da classe trabalhadora convencida disso.
Edição: Simone Freire