Maria da Penha sentiu na pele as dívidas sociais deixadas pelos jogos olímpicos. A Vila Autódromo, comunidade localizada ao lado do Parque Olímpico, na zona oeste do Rio, onde ela mora, já teve 700 famílias e hoje tem apenas 20.
“Mesmo conseguindo resistir, minha comunidade não é a mesma. Temos muito espaço livre, isso mostra que não precisavam tirar as pessoas que estavam ali. Nós fomos violentados pelo governo e pelo COI. Eles tem que aprender a respeitar o território dos cidadãos de cada país”, protesta.
Para pessoas como Maria da Penha, o legado olímpico é bem diferente do prometido pelo Comitê Olímpico Internacional, o COI. Histórias como a da Vila Autódromo fazem parte da publicação Rio Olímpico: Qual o legado um ano depois dos Jogos?, lançado nesta semana pelo Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, o PACS.
Para a educadora física Edneida Freire, os jogos não trouxeram nada de positivo para o esporte da cidade. // Ela fazia parte da equipe de treinadores de projetos sociais do Estádio de Atletismo Célio de Barros, fechado em 2013 para abrigar entulhos das obras de reforma do Complexo do Maracanã.
“Estamos perambulando por aí, não temos local de treino e nem de competição. Viramos pedintes na cidade olímpica. Não estou reivindicando só equipamento, luto por transformação e resgate de projetos com crianças e adolescentes que dava muito certo. Foi uma perda inestimável", lamenta.
Antes do fechamento, o Célio de Barros chegou a receber mais de 800 pessoas por dia entre profissionais, amadores e alunos de projetos sociais. Além de um balanço sobre os equipamentos esportivos, a maior parte deles abandonados, a publicação apresenta também dados sobre o endividamento do Rio, que atingiu em 2017 mais de um bilhão de reais. O livro também cita a ineficácia das políticas de despoluição da Baía de Guanabara e de mobilidade urbana, e o aumento da violência com a militarização promovida na esteira dos jogos.
Edição: Raquel Júnia