O gringo entendia o que falavam, mas não sabia nada da cultura brasileira
Meu amigo Edmilson, paraibano, conhecia todas as cidades do seu estado, viajava muito pelo sertão.
Eu e um bando de amigos sempre procuramos conhecer o Brasil profundo, os lugares em que turista não vai. Assim é que entendemos melhor o nosso país e o nosso povo.
Quanto mais lenta e demorada a viagem, melhor. Parando em todos os lugares, conversando com todo mundo.
Sinto uma saudade danada das viagens de trem, mas tinha que ser daqueles lerdos, vagarosos. Dentro deles a conversa rolava solta, sem prazo pra terminar, e a gente aprendia muito.
Na Paraíba, não tinha muitos trens, mas rodei um pouco por lá, de carona ou de ônibus, e dava mais gosto ainda quando viajava com alguém que conhecia bem a região, como o Edmilson.
Numa dessas viagens, em que eu não estava, o Edmilson levou outro amigo meu, um mineiro alto e branquelo. Para os padrões locais, parecia gringo.
Onde passavam o mineiro alto e muito branco despertava curiosidade. Numa cidade bem pequena em que pararam para almoçar, o dono do bar não tirava os olhos dele.
E os dois resolveram estimular a suposição de que o branquelo era norte-americano.
O Edmilson falou ao dono do bar que o gringo tinha estudado um pouco de português, entendia o que falavam, mas não sabia falar direito a nossa língua, e não conhecia nada da cultura brasileira.
As comidas, as músicas tocadas no rádio, os animais, tudo merecia uma explicação do dono do bar:
— Esse bicho se chama jegue... Jegue. Ji é jé; guê u é, gue. Jé-gue. Jegue.
— Essa comida aqui é macaxeira. — aí não soletrou. Às vezes soletrava, às vezes não.
Quando chegou a hora da sobremesa, o comerciante veio mostrar tudo o que tinha. Trazia da cozinha e mostrava, uma a uma.
— Esta é a banana frita — mostrou.
— Esta é a banana em calda — mostrou também.
— Esta é a bananada — exibiu.
E foi mostrando tudo derivado da banana: banana-passa, cozida com mel, banana assada com canela. Até que por fim mostrou uma penca de bananas e falou:
— Esta é a banana em pessoa pessoalmente.
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