O ex-ministro da Defesa Celso Amorim classificou como “irresponsável” a atitude recente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de ameaçar fazer uma intervenção militar na Venezuela para depor o presidente Nicolás Maduro, que enfrenta uma intensa crise político-econômica no país.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Amorim disse que a conduta pede um posicionamento enérgico por parte da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), e também do Mercosul, bloco composto atualmente por Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai, uma vez que a Venezuela foi suspensa.
“É uma coisa muito irresponsável e merecia uma reação, independentemente de ideologia. Se Trump dissesse a mesma coisa sobre o governo da Colômbia ou sobre o Peru — que não são regimes de esquerda, digamos assim —, por qualquer motivo que fosse, a reação teria que ser a mesma", ressalta o diplomata.
Para Amorim, que também foi ministro das Relações Exteriores nos governos Lula e possui larga experiência com a diplomacia, eventuais divergências políticas em relação à Venezuela não podem ser motivo para ameaças à soberania do país. “Você pode gostar ou não gostar da maneira como foi eleita a Constituinte, mas não pode, de maneira alguma, ameaçar a integridade territorial de um Estado, a soberania de um Estado latino-americano da maneira como isso foi feito agora", enfatiza
Nesta quinta-feira (17), o senador Roberto Requião (PMDB-PR) apresentou um requerimento à Comissão de Relações Exteriores do Senado, sugerindo que seja feito um voto de censura à ameaça feita por Trump. O colegiado deve apreciar o pedido na próxima quinta-feira (24).
O peemedebista apontou que o governo estadunidense financia a oposição venezuelana para derrubar o governo de Maduro por conta dos interesses econômicos relacionados às reservas de petróleo do país.
O senador lembrou ainda que o Estados Unidos são autores de intervenções militares em países como Iraque, Síria e Somália. Diante desse cenário, ele alertou para o risco de mais turbulência na relação entre os estadunidenses e o restante do continente: “Leva à instabilidade na América do Sul. Os nossos países todos têm relações comerciais muito próximas entre uns e outros, e o que pode acontecer é trazer uma instabilidade como a que a gente conhece em outros lugares do mundo."
Nesse sentido, o ex-ministro Amorim avalia que para além dessas questões, a declaração de Trump, dada há cerca de uma semana, fere as normas internacionais. “A ONU é muito clara quando fala não só da agressão, mas também da ameaça do uso da força como algo que não pode ser aceito. E o que está colocando na fala do presidente Trump é uma ameaça. A integridade territorial dos Estados e o principio do não uso da força armada e da não ameaça do uso da força armada são princípios fundamentais do Direito Internacional da nossa região".
A Venezuela vive uma grave crise política e econômica, gerada pelas sucessivas ações desestabilizadoras da oposição. Recentemente, o governo Maduro convocou a realização de uma Assembleia Constituinte com o objetivo de pacificar o país. No entanto, o boicote dos opositores e a pressão de países como os Estados Unidos para que o presidente deixe o cargo agravaram ainda mais a situação.
Edição: Camila Salmazio