De que adianta o PMDB retirar o P inicial e voltar a se denominar MDB?
De que adianta o PMDB retirar o P inicial e voltar a se denominar MDB, como em tempos anteriores em que o partido em questão existia juntamente com a famigerada Arena, apoiadora da ditadura empresarial militar e que reunia o que havia de pior e mais reacionário na política brasileira? O PMDB quer seguir a moda atual de troca de nome das siglas partidárias.
É preciso lembrar também que o antigo MDB reunia figuras políticas carimbadas e que se diferenciavam muito pouco da Arena. No Rio de Janeiro, a sigla era abrigo do então Governador Chagas Freitas, que através de métodos espúrios dominava o partido e, como diz o ditado popular, cantava de galo, ou seja, fazia o que os generais de plantão da época queriam.
O grupo fisiológico de Chagas Freitas que dominava o MDB pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, era o que hoje é o PMDB de Romero Jucá, Eliseo Padilha, Moreira Franco, apesar desse político na época do MDB estar ligado ao sogro, Amaral Peixoto, e outros do gênero que infestavam a política brasileira.
Moreira Franco, antes de ingressar no já PMDB chegou a virar prefeito de Niterói, pelo PDS, e quem mora lá e não tem memória curta não se surpreende com que anda aprontando o político hoje em dia. Foi chamado por Brizola de gato angorá, apelido que pegou até hoje e foi citado em uma das denúncias do Lava Jato. Depois de Niterói, ainda como PDS quase foi contemplado com uma fraude para virar governador, em 1982. Mas Brizola foi mais ágil e desmontou o esquema do Proconsult, em que a ditadura em seus estertores tentou evitar a eleição do governador que passou exilado muitos anos durante a ditadura.
Em 1974, os eleitores brasileiros só tiveram uma saída para demonstrar descontentamento com a ditadura, votar em peso no MDB. Nessa época ascenderam políticos combativos, como Saturnino Braga, eleito Senador pelo antigo Estado do Rio.
No bloco do então MDB também se fortaleceu o chamado Grupo Autêntico, destacando-se o combativo Deputado Lysâneas Maciel, que se estivesse entre nós certamente combateria os golpistas de 2016 alinhados no PMDB do putrefato Michel Temer, um partido que se alinha com a bancada ruralista para evitar que o golpista que ocupa o Palácio do Planalto fosse julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Para se ter uma ideia de como era considerado o MDB daquela época, muitos brasileiros que não compactuavam com a ditadura o denominava partido do “sim”, enquanto a Arena era o do “sim senhor”. Ambas as denominações diziam respeito ao relacionamento dos dois partidos com a ditadura então vigente.
Por estas e muitas outras, talvez ainda não conhecidas, é que se o atual PMDB decidir em sua próxima convenção em setembro voltar a ser MDB, não passará apenas de um exercício para enganar incautos. Vão querer utilizar a imagem de alguns políticos da época que não chegaram a se dobrar como Chagas Freitas. Estamos nos referindo a, por exemplo, Ulysses Guimarães, que se estivesse entre nós jamais compactuaria com o partido atual que quer voltar a se chamar MDB. Pelo perfil de Ulysses, dificilmente apoiaria um governo golpista como o atual.
Vale registrar também que do antigo Grupo Autentico a maioria absoluta foi se abrigar nas novas siglas partidárias que se formaram com o esfacelamento da ditadura empresarial militar. É preciso lembrar todos esses fatos, porque é possível que os atuais próceres do PMDB, parte ponderável acusada de corrupção, tentarão enganar os eleitores se apresentando como combatentes da ditadura, como a maioria não o foi. Quem não tem memória curta deve se lembrar muito bem o que foi o MDB dominado pela corrente chaguista, que sofreu um duro revés com a eleição do governador Leonel Brizola pelo PDT para o Executivo do Estado do Rio de Janeiro, em 1982.
Quando o tal senador Jucá anuncia a possível troca de nome do PMDB para MDB é mais do que necessário reviver aqueles tempos sombrios em que uma parte ponderável do partido do “sim” era apenas um engodo, com Chagas Freitas e outros pelo Brasil afora. E hoje, afundado na lama da corrupção e do projeto do golpista putrefato Michel Temer, os políticos dessa sigla imaginam que poderão enganar a opinião pública apenas com a retirada de um P. É realmente contar com a absoluta falta de memória e a despolitização dos brasileiros. É possível que os ainda atuais peemedebistas contem com a boa vontade dos departamentos comerciais da mídia comercial conservadora, acostumadas na rotina de retribuir favores, inclusive governamentais. Em outras palavras, a publicidade estatal conta muito nessa hora para enganar a opinião pública.
De qualquer forma, o alerta está dado, valendo também lembrar que a antiga famigerada Arena mudou várias vezes de nome, de PDS passou ase chamar PFL, virando hoje DEM, que para muitos deveria ser chamado de DEMO. Não será de se estranhar que seguindo a moda adote outra denominação, mas em essência continua sendo o projeto da antiga e famigerada Arena.
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