A agricultora Maria de Fátima Pereira de Jesus, integrante do acampamento Valdir Marcedo, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), localizado no povoado de pescadores Cachoeira do Itanhi (BA), acordou às 4h30 deste domingo (20) para cozinhar para visitantes. Entre eles, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que conheceu o acampamento no quarto dia de sua Caravana pelo Brasil.
Maria de Fátima conta que estava ansiosa. “É muito emocionante, nunca tinha cozinhado para um ex-presidente”, conta a sem-terra, que vive no acampamento que abriga 54 famílias e fica na beira da estrada, perto da divisa com Sergipe. O MST ocupa a área há quatro anos e seis meses, e tem como intenção conquistar a posse da Fazenda Cambuí, um dos muitos latifúndios da região, que segundo os acampados, encontra-se improdutiva há anos.
É o que explica Joselito dos Santos Faria, o “Fiô”, coordenador da ocupação. “Temos esse sonho e expectativa há quase cinco anos. Estamos em frente à propriedade para marcar nosso território. Com a vinda do Lula isso vai ser um ápice, vai acelerar as coisas. A gente quer tornar a área produtiva, dando às famílias a possibilidade de plantar e trabalhar pelo seu sustento. Se o proprietário não zela, nós queremos fazer dessa terra nosso paraíso”, afirmou.
Uma faixa de boas-vindas e centenas de assentados e acampados receberam o ex-presidente Lula no acampamento, por volta das 14h. Ele visitou a casa de um acampado e seguiu para uma "mística", realizada pelas mulheres do MST. Elas cantaram músicas e "entregaram" simbolicamente o ex-presidente para Sergipe, próximo estado que será visitado pela Caravana.
“Queria agradecer tanto ao MST quanto ao PT pelos momentos maravilhosos e o encontro extraordinário com o povo da Bahia, um povo sensacional. Eu saio da Bahia agradecido com o carinho da população”, disse o ex-presidente.
Lula andou pelo acampamento, ouvindo as histórias dos acampados. O ex-presidente conheceu também a biblioteca comunitária da ocupação, que leva o nome de "Dona Maurina”, em homenagem a já falecida mãe do assentado Adailton Monteiro, que foi educadora popular na região por muitos anos.
A biblioteca é um dos maiores orgulhos da ocupação. É o que explica o fotógrafo Luiz Mario de Santana Santos, o Marinho, que já viveu no acampamento. “Além de um espaço de leitura, ela foi criada com o objetivo de espalhar conhecimento, uma das principais armas que o ser humano tem. Foi pensado para a juventude, porque fizemos uma pesquisa e percebemos que a juventude da região não tem muita perspectiva. Agora percebemos que o desafio é maior: como criar um incentivo à cultura e leitura”, explica.
Luta pela terra
O agricultor João de Deus da Conceição conta que sua vida foi transformada pelo movimento há 18 anos. “Abracei a reforma agrária como uma jóia rara, algo para levar para a eternidade”, disse.
“Quando conheci a luta da reforma agrária não entendia muito o que significava. Mas eu vi que o sentido dessa luta é a minha vida, é a história do meu pai, do meu avô. Meu pai me ensinou que as terras não devem ter demarcação, são de todos que quiserem cultivar. Essa terra mesmo não tinha demarcação, a gente chamava de Terra do Santo. Foi passada para os fazendeiros. Essa região, o início da nossa Bahia, tinha que ser rica, mas é a parte mais empobrecida”, completou João.
Já Raimunda Francisca veio de outro assentamento prestigiar a visita de Lula. Assentada há cinco anos, ela também veio contribuir com a preparação do almoço, trazendo farinha, laranja e amendoim produzidos no seu assentamento. “Desde que fui assentada não parei a luta. Eles lutaram por mim e eu luto por eles. Há 13 anos estou no MST e há 13 anos conquistei minha liberdade”, afirmou.
A Caravana Lula pelo Brasil segue para Estância (SE). O ex-presidente ficará no estado pelos próximos dois dias.
*A cobertura da caravana "Lula pelo Brasil" é realizada por meio da parceria entre Brasil de Fato, Mídia Ninja e Jornalistas Livres.
Edição: Luiz Felipe Albuquerque