Mãe, descendente de indígenas, militante do movimento popular e formada em gestão pública. A vereadora Juliana Cardoso (PT), aos 37 anos, está em seu terceiro mandato e desenvolve um extenso trabalho voltado à saúde, moradia, mulheres e direitos humanos na Câmara Municipal de São Paulo.
Em entrevista concedida ao Brasil de Fato, Juliana comentou o discurso do prefeito João Doria, que sempre ressalta a falta de verbas para a cidade: "essa gestão diz que não tem recurso. E a gente começa a compreender que isso não é real e os números não mentem. A gente começa a perceber que, de fato, não há uma gestão pública, a cidade está sendo pensada numa lógica de gestão privada", diz.
Confira a íntegra da entrevista:
Brasil de Fato: Juliana, como você enxerga hoje a gestão municipal da cidade?
Juliana Cardoso: As políticas públicas não estão acontecendo na cidade de São Paulo. De fato há um desmonte nas áreas-fins, como saúde, assistência social, educação e para as mulheres. A gestão diz que não tem recurso, mas a gente começa a compreender que isso não é real, e os números não mentem. Ele [João Doria] conseguiu ter uma arrecadação de 4% a mais do que agosto de 2016. Estamos percebendo que, de fato, não há uma gestão pública, mas que a cidade está sendo pensada numa lógica de gestão privada.
Hoje, com as eleições e a entrada de novos vereadores, imagino que o clima da Câmara se modificou, como estão os embates políticos na casa?
Primeiro, entraram muitos vereadores novos e jovens e com a visão que a política pública tem que ser vinculada às iniciativas privadas, ao Estado mínimo e dando apoio aos projetos de lei da privatização, como o projeto que está na Casa, que é a venda da cidade de São Paulo em cinco aspectos: cemitérios, mercados, mobiliário urbano, terminais/bilhetagem e os parques municipais. Alguns [projetos] vêm como privatização ou concessão, mas o projeto começa de forma inconstitucional, porque não traz estudo do impacto do que isso gera de orçamento para a cidade de São Paulo e de porque temos que nos desfazer, dando para a iniciativa privada.
Muito bem Juliana. Essa questão dos cortes do orçamento são bem importantes para a gente entender como funciona a gestão pública. Pelo que você explicou não temos esse problema de falta de recurso, então para onde está indo esse dinheiro que a prefeitura não está investindo?
A gente tem também que pensar quem é o nosso secretário de finanças hoje. É um secretário [Caio Megale] vinculado ao Banco Itaú...O que quero dizer com isso? Nós estamos quase apostando que no final do ano vai ter sobra de recurso para que João Doria comece a fazer investimento em zeladoria e dizer que está trabalhando, mas nessa visão de se projetar como candidato à presidência da república...
Juliana fez alertas importantes sobre a condução da prefeitura por João Doria que, como ela diz, tudo indica que está tentando se erguer como candidato à presidência.
É importante que a gente conte para as pessoas o que está acontecendo aqui em São Paulo e que a figura do João Trabalhador não existe... o prefeito mal fica aqui, né, Juliana?
Ele mal fica aqui, a agenda dele desses oito meses foi 40% fora da cidade de São Paulo, 10% fora do país e o restante vinculado ao setor da iniciativa privada...
Enquanto acompanha de perto o que essa gestão tem feito com as políticas públicas para as mulheres, como você avalia tudo que tem sido feito e não feito?
As casas abrigo que são específicas para a questão das mulheres não tiveram repasse do orçamento. É um desmonte que tem acontecido silenciosamente...
Como é essa relação do prefeito com os vereadores e com os próprios conselhos como o de saúde e habitação? Me parece que eles não são ouvidos na hora de pensar política...
Ele está diminuindo drasticamente o número de conselhos das subprefeituras, que agora ele chama de prefeitura regional...Eles não gostam de povo, de conselho, ele acabou com o conselho consultivo da cidade que o prefeito Fernando Haddad tinha implantado com diversos especialistas e movimentos. Agora há só um conselho vinculado à iniciativa privada de grandes banqueiros e multinacionais que ficam ali dialogando com proveito sobre a melhor maneira de lucrar com a cidade.
Ouça esta entrevista no áudio acima.
Edição: Vanessa Martina Silva